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Jornalista lembra caso Rigo e diz que André foi infeliz na defesa de denúncia

Ex-governador foi citado em delação premiada de executivo da Odebrecht

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Denunciado no esquema de propina da Odebrecht, o ex-governador André Puccinelli (PMDB) voltou a ser o principal assunto da pauta de vários órgãos de imprensa, incluindo rádios, jornais impressos, sites e blogs nacionais e de Mato Grosso do Sul.

O principal nome do PMDB para a disputa ao governo do Estado em 2018 é acusado de receber propina no valor de R$ 2,3 milhões do esquema sujo patrocinado pelo governo do PT em conluio com a empreiteira gigante.

Embora negue tais acusações, a resposta do ex-governador desenterrou um fato polêmico que abalou a estrutura dos poderes em Mato Grosso do Sul em meados de 2010, mas que, ainda assim, terminou em pizza: o caso Ary Rigo.

O episódio voltou à tona na edição desta terça-feira (18) no Blog do jornalista Valfrido Silva (http://www.valfridosilva.com/). Intitulada Raposa no galinheiro, a nota se reporta a denúncia daquela época na qual o deputado estadual Ary Rigo (PSDB), primeiro-secretário da Assembleia Legislativa, denunciou um esquema de corrupção no Estado envolvendo políticos e até integrantes do Poder Judiciário.

"André Puccinelli não poderia ter sido mais infeliz em seu sagrado direito de resposta quanto às acusações do delator João Pacífico, de que teria embolsado R$ 2,3 milhões em propina da Odebrecht. Segundo o ex-governador tudo foi negociado com o acompanhamento da Procuradoria Geral do Estado. Ora... ora, para quem não se lembra, o PGE à época era Miguel Vieira, aquele, mesmo, acusado pelo ex-deputado Ary Rigo de embolsar R$ 300 mil de propina por mês, do mesmo Puccinelli", diz a nota publicada pelo jornalista.

Valfrido Silva fez menção a gravações feitas à época pelo então chefe de governo da Prefeitura de Dourados, Eleandro Passaia, no mandato de Ari Artuzi (falecido), em que Rigo revela suposto esquema de corrupção no governo de André Puccinelli.

Imagens e diálogos mostram no vídeo o parlamentar dizendo que a Assembleia Legislativa repassava R$ 2 milhões para André Puccinelli. No vídeo divulgado no Youtube e repercutido nos canais de televisão durante a campanha eleitoral de 2010, Rigo cita ainda que Artuzi, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção, preso em Campo Grande, foi "protegido" pelo desembargador Claudionor Abss Duarte.

As acusações atingiram também o ex-procurador do MPE-MS (Ministério Público Estadual), Miguel Vieira, que teria recebido dinheiro para "proteger" o prefeito de Dourados.

Apesar das graves denúncias, o caso ficou sem explicação até hoje, com blindagem de parlamentares envolvidos no esquema sujo. O único castigo ficou por conta da derrota nas urnas de Rigo, mesmo considerado como um dos favoritos para retornar à Assembleia, naquela época.

DELAÇÃO PREMIADA

O ex-governador e o ex-deputado federal Edson Giroto foram citados em delação de executivo da Odebrecht por ter supostamente cobrado e recebido dinheiro de propina para a campanha de 2010.

O executivo da empreiteira, João Antônio Pacífico Ferreira, relatou o pagamento com detalhes, em delação premiada. Foi dado, inclusive, datas e ele assegurou que há planilha para comprovar o esquema.

O empreiteiro João Alberto Amorim Krampe dos Santos também foi citado como intermediário na negociação.

O caso consta em documentos levados ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas nenhum dos três responde a inquérito.

Na delação, Pacífico afirmou que para a empresa conseguir receber um crédito milionário, precisava pagar 10% do valor a título de "auxílio de campanha". O saldo do crédito era de R$ 79 milhões, valor corrigido em 2010, mas na negociação com o Governo do Estado, a Odebrecht concedeu desconto de 70%, o que equivalia a um pagamento de R$ 23,4 milhões.

O executivo comentou que essa quantia arrastava-se há mais de quatro anos e em uma das tentativas de receber, um contato da empresa, chamado Pedro Augusto Carneiro Leão, procurou Puccinelli entre 2006 e 2007 (o período não ficou claro na delação, apenas menciona que André tinha sido eleito quando foi requisitado). As tratativas só surtiram efeito em 2010, no ano de eleição.

"Somente em 2010 (...), após contatos com o governador André Puccinelli e com Edson Giroto, Pedro Leão, com a minha ciência e autorização, conseguimos formalizar um novo acordo para quitação do saldo (que era devido pelo Estado à empreiteira)", disse Pacífico em sua delação.

Durante as tratativas, Puccinelli mencionou sobre a eleição. "O governador André Puccinelli lhe disse (a Pedro Leão), expressamente, que estava buscando reeleição e precisava de apoio financeiro", detalhou Pacífico.

O delator explicou que depois dessa conversa sobre candidatura, o ex-governador pediu que Pedro Leão tratasse diretamente com Edson Giroto.

"Condicionou a assinatura do acordo (para pagamento de créditos a Odebrecht) ao pagamento a pretexto de auxílio de campanha de 10% sobre o valor a ser recebido (R$ 23,4 milhões), equivalente a R$ 2,34 milhões", explicou o delator sobre a propina a ser repassada para a campanha de Puccinelli, que se reelegeu.

Pacífico alegou que foi obrigado a fazer esse pagamento para que houvesse o recebimento dos créditos. "Não deveria ter pago. O certo era não pagar, mas para não deixar de receber os créditos, eu autorizei o pagamento (da propina)", afirmou.

Questionado se esse acordo foi formalizado, o executivo sinalizou que houve documentação.

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INTERMEDIÁRIO

A negociação ainda envolveu o nome do empreiteiro João Alberto Krampe Amorim dos Santos. Ele fora indicado para conversar com Pedro Leão depois que a proposta tinha sido feita.

O retorno sobre o "sim" para a propina foi dado a Amorim, classificado pelo executivo da Odebrecht como "pessoa de confiança do governador André Puccinelli".

Durante a delação, João Antônio Pacífico disse que a primeira parcela recebida pela empresa foi em 23 de agosto de 2010. Por outro lado, os R$ 2,34 milhões foram quitados em parcelas nos dias 1, 2 e 3 de setembro de 2010. O delator mencionou que houve pagamento em quatro parcelas, mas não citou expressamente uma quarta data.

O crédito da Odebrecht de R$ 23,4 milhões continuou a ser pago nos dias 28 de setembro de 2010, 25 de outubro de 2010 e em 14 de janeiro de 2011.

A propina teria sido repassada em dinheiro e paga em São Paulo. Não fica apontado claramente quem viajou para receber. Ao mesmo tempo, a negociação sobre o acordo foi feita no Parque dos Poderes, na sede do Governo do Estado.

Como estava em campanha para deputado federal, Edson Giroto também recebeu dinheiro da empreiteira. João Antônio Pacífico afirmou que foram pagos R$ 300 mil a ele.

Nas planilhas da empresa, o nome do ex-deputado é "Carrossel" e o valor foi quitado em 15 de outubro de 2010, segundo o executivo. O pagamento aconteceu em São Paulo e não estava condicionado ao acordo.

PRESTAÇÃO DE CONTAS

Nos documentos que constam na prestação de contas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de 2010, não constam ambos os pagamentos a Puccinelli e Giroto. A pesquisa foi feita tanto a partir do filtro "Odebrecht", como pelos valores mencionados na delação.

DEFESA

André Puccinelli defendeu-se que toda a negociação foi acompanhada da Procuradoria Geral do Estado. Ele também afirma, categoricamente, que não pediu vantagem pessoal nas tratativas. Veja a nota.

"Sobre notícias de doação de campanha envolvendo meu nome, tenho a esclarecer que:

1 – O governo do estado negociou com o ACOMPANHAMENTO da PGE (Procuradoria Geral do Estado ) uma dívida do governo do PT de 79 milhões por 24 milhões em quatro parcelas fixas e mensais.

2 – EU não pedi qualquer vantagem pessoal mesmo porque tendo exigido junto com a PGE (SETENTA POR CENTO DE DESCONTO), seria inverossímil acreditar que contribuíssem para minha campanha.

3 – Estou à disposição da justiça, como sempre estive, e sou político que sempre abriu mão dos sigilos bancário e fiscal desde o primeiro mandato eletivo, até hoje." Com informações do Correio do Estado. 

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