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Ameaça de envenenamento de crianças ligada ao Baleia Azul causa pânico entre pais

PM diz que caso em MG era boato e o suposto autor diz que se tratava de uma brincadeira. Ameaça é apontada como 10º desafio do jogo, mas 'lista original' cita crimes contra terceiros.

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Divulgação

Mensagens com ameaças de envenenamento de alunos em diversas cidades do país está sendo divulgada em grupos de WhatsApp e causando preocupação entre pais. O texto diz que o crime seria uma das tarefas associadas ao "Jogo da Baleia Azul", que ficou conhecido como sequência de 50 desafios que envolvem isolamento social, automutilação e incentivo ao suicídio de adolescentes e jovens.

Cometer crimes contra terceiros não é uma tarefa que consta, ao menos, na lista aberta e conhecida dos 50 desafios atribuídos ao Baleia Azul.

Em Ipanema, Minas Gerais, a Polícia Militar disse que se tratava de um boato a mensagem que citava escolas da cidade. No mesmo caso, um jovem apontado como suposto autor negou qualquer ameaça e disse que seu nome passou a ser associado ao texto após ter feito uma brincadeira no Facebook dizendo que estava jogando o Baleia Azul.

O que se sabe sobre a ameaça e sobre o Baleia Azul

O alerta de que balas envenenadas serão distribuídas para crianças começou a circular nesta semana em grupos do WhatsApp.

A mensagem em texto é "assinada" por autor que diz estar participando do jogo. Ele anuncia o nome de escolas onde supostamente pretende cometer o crime e se desculpa antecipadamente pelo que pretende fazer.

Os supostos autores dessas mensagens dizem que cumprem a 10ª tarefa do jogo Baleia Azul. Na lista original do jogo, a 10ª tarefa trata de outro tema sem qualquer relação com ameaça a terceiros.

Cometer crimes contra outras pessoas não é uma tarefa que consta, ao menos, na lista aberta e conhecida dos 50 desafios atribuídos ao Baleia Azul.

Apesar disso, há versões da lista que incluem ao menos duas tarefas cujo conteúdo é apontado como "secreto".

Uma das primeiras cidades a ser apontada como alvo da ameaça foi Ipanema (MG). A PM diz que se trata de um boato e as escolas citadas afirmaram ter conversado com alunos e redobrado a segurança.

O aproveitamento do Baleia Azul por oportunistas e sua ligação com notícias falsas é apontada por especialistas desde sua origem, em 2015, na Rússia. A Safernet, associação que monitora violação de direitos humanos na internet, diz que o Baleia Azul começou após notícia falsa em rede estatal russa sobre suicídio de jovens.

Desde 2015, não há relatos de crimes contra terceiros que teriam partido de participantes do jogo.

Com caracterísitcas de "viral", a mensagem com a ameaça reproduz sempre um texto padrão: nele são trocados apenas cidade, escolas alvo e autor.

Especialistas e educadores indicam que a melhor prevenção é a conversa aberta em família sobre o Baleia Azul e todos os seus eventuais desdobramentos.

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Entenda o Baleia Azul

O que atualmente está sendo conhecido como "jogo" na verdade é uma sequência de troca de mensagens em redes sociais e tarefas a serem cumpridas. Nas conversas, um grupo de organizadores, chamados "curadores", propõe 50 desafios macabros aos adolescentes, como fazer fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se desenhando baleias com instrumentos afiados em partes do corpo e ficar doente.

Segundo o presidente da Safernet, Thiago Tavares, o jogo foi um “fake news” (notícia falsa) divulgada por um veículo de comunicação estatal da Rússia que se espalhou a partir de 2015. “Era um ‘fake news’, mas existe um efeito que, sendo verdadeira ou não, a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens. O jogo não existia, mas com a grande repercussão da notícia, pode ter passado a existir.”

Tavares lembra que o "efeito contágio" tem suas consequências reais, e não virtuais. “O efeito contágio é um fenômeno muito anterior à internet, e particularmente comum entre adolescentes e jovens.”

O G1 ouviu especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:

1. Fique atento à mudança de comportamento

Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.

“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, diz.

2. Compartilhe projetos de vida

Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da repercussão do “Jogo da Baleia”.

“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.

3. Abra espaço para diálogo

Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de proteção”, afirma Elizabeth.

Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família.”

Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”

4. Adolescentes devem buscar aliados

O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, diz Elizabeth.

5. Escolas podem criar iniciativas pela vida

Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.

Alguns colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas para aumentar a conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No Colégio Fecap, que fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma de alunos do ensino médio técnico de programação de jogos digitais começou a criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul.

“O jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da vida e celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.

Durante o curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. Segundo Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja disponível on-line para o público em geral.

Ele afirma que o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais fortemente nossos alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a favor da vida.”

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