Buscar

Capoeira tem programação especial neste fim de semana em Campo Grande

Cb image default
Capoeira é um importante elemento da cultura negra, que mescla dança, música, arte marcial e história - Rose borges/divulgação

No cruzamento entre dança, arte marcial e cultura popular, a capoeira surge como uma manifestação profundamente brasileira. Patrimônio imaterial nacional, a arte criada pelos descendentes de escravos africanos terá um fim de semana dedicado a ela.

O grupo Camuanga de Angola promoverá um fim de semana de imersão na prática com o evento Três Dias Respirando Capoeira de Angola. Na programação, palestras e rodas de conversa, além de muitas oportunidades para prática. Os encontros acontecem no Bairro Aero Rancho, Rua Taumaturgo, 138.

Outro evento será promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o 3o Encontro Estadual para a Salvaguarda da Capoeira, que reunirá diversas entidades para discutir maneiras de preservar a arte. O encontro acontecerá no auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, no sábado e domingo, a partir das 9h.

O encontro realizado pelo Iphan teve sua primeira edição em 2014 e foi responsável pela criação do Fórum da Capoeira de Mato Grosso do Sul. “Esse foi o primeiro passo dentro de um plano de ação desenvolvido pelo instituto. Agora, com o encontro deste ano, pretendemos criar um conselho gestor, que contará com a participação da sociedade civil, mas também de representantes de prefeituras e do governo estadual, a fim de garantir a preservação dessa manifestação cultural”, explica Sara Bernal, museóloga do Iphan.

Segundo ela, Mato Grosso do Sul é um dos estados mais avançados em relação às ações de preservação da capoeira, ao lado de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. “Durante muito tempo tentou-se, no Brasil, sufocar a capoeira. Mas ela se manteve e, hoje, é um dos símbolos do País”, argumenta.

NA LUTA

Atualmente, o coordenador-geral do Fórum da Capoeira de Mato Grosso do Sul é Lucimar Espíndola da Silva, também conhecido como Mestre Cai Duro. “Os apelidos são um dos elementos tradicionais da história dessa arte. Como houve muita perseguição contra os capoeiristas, eles usavam codinomes para não serem reconhecidos”, explica.

O mestre começou seus treinos de capoeira em 1977, quando veio para Campo Grande, logo depois da divisão do Estado. “Eu comecei a treinar em casa, com alguns livros como ‘Capoeira sem Mestre’ e ‘Capoeira em 145 Figuras’. Depois, entrei para a academia e me formei em 1983”, conta.

Segundo ele, a capoeira deve ser preservada por ser um elemento cultural brasileiro. “Mas não desse Brasil que a gente aprende a história na escola. A capoeira conta a história verdadeira, aquela que os livros esqueceram. Ela é sinônimo de resistência e liberdade do povo negro escravizado, dos quilombolas”, afirma. E, para ele, o ensino da arte vai além da luta. “É preciso mostrar a cultura, o simbolismo e tudo o que está por trás dos movimentos”, aponta.

REGISTRO

Rose Borges e Alessandro Riquelme são casados e a capoeira é uma paixão comum entre os dois. Ela teve aprovado um projeto para a produção de um documentário sobre a capoeira em Campo Grande. No entanto, como os recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (Fmic) não foram liberados, o projeto ainda não pôde ser executado. Com o projeto, Rose poderia unir duas paixões: o cinema e a capoeira.

“A ideia surgiu depois que meu marido e eu começamos a participar do fórum estadual de capoeira. Conversando com alguns profissionais do Iphan, percebemos que não havia registro audiovisual da arte”, explica Rose. “O que me atrai na capoeira é o fato de ela ser uma arte completa. Ela não é só dança, não é só luta, ela é um encontro de culturas.”

O roteiro do documentário foi assinado por Rose, com o título “Coisa de Negro: Porandubas e Racontos da Capoeira”. A direção será de Israel Miranda, e a produção, de Alessandro, que é professor de capoeira.

Professor há dois anos, atuando em um projeto do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, Alessandro afirma que o desafio atual para a capoeira é conquistar maior representatividade cultural.

“Ela foi uma arte marginalizada durante muito tempo. Existem poucos incentivos, mas estamos em um momento importante”, afirma. Ele começou a praticar a arte em 2006, no Centro Cultural José Octávio Guizzo – que ainda oferece aulas ao público. Segundo Alessandro, a capoeira tem grande potencial pedagógico. “A gente trabalha o corpo, a mente, a musicalização, discute a história. É uma arte completa.”

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.