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Ataque químico deixa pelo menos 58 mortos na Síria

Os Estados Unidos responsabilizaram o presidente sírio, Bashar al Assad, pelo ataque

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AFP

Um suposto ataque químico, do qual vários países acusaram o regime de Bashar al-Assad, deixou nesta terça-feira (4), ao menos 58 mortos e 170 feridos, incluindo muitas crianças, que sofriam convulsões e problemas respiratórios, em uma localidade rebelde da Síria.

O bombardeio provocou uma onda de condenação internacional e Washington, Paris e Londres responsabilizaram o governo de Assad, que desmentiu categoricamente qualquer envolvimento.

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá em caráter de urgência para examinar as circunstâncias dos bombardeios que atingiram na manhã desta terça-feira Khan Sheikhun, uma pequena cidade da província de Idlib, reduto dos rebeldes e extremistas no noroeste da Síria.

"Ouvimos bombardeios (...) Corremos para dentro das casas e havia famílias mortas. Vimos crianças, mulheres e homens mortos nas ruas", contou à AFP uma testemunha, Abu Mustafá.

Vídeos de militantes anti-regime mostravam corpos sem vida sobre as calçadas e outras pessoas sofrendo espasmos e episódios de asfixia.

As vítimas "têm as pupilas dilatadas, convulsões, espuma saindo da boca", explicou Hazem Shahwane, um socorrista entrevistado em um dos hospitais da cidade.

Ao menos 11 crianças faleceram, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Este é o "segundo ataque químico mais mortífero do conflito na Síria", depois do que deixou mais de 1.400 mortos em 2013, disse a organização, que não pôde especificar que tipo de gás venenoso havia sido utilizado.

'Responsabilizar'

O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Misutra, declarou que a ONU quer "identificar claramente as responsabilidades".

Reagindo ao cair da noite, o exército sírio desmentiu "categoricamente ter usado hoje (terça-feira) substâncias químicas ou tóxicas em Khan Sheikhun (...)" e ressaltou que "nunca as utilizou, em nenhum momento, em nenhum lugar e que não fará isso no futuro", afirmaram as forças armadas em um comunicado publicado pela agência oficial Sana.

O governo sírio, que ratificou a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em 2013, desmentiu em muitas ocasiões o uso de armas químicas, mas as acusações contra Damasco de que utiliza tais armas se sucedem, e uma investigação liderada pela ONU apontou que o regime fez ao menos três ataques de cloro em 2014 e 2015.

O exército russo, o principal aliado do regime sírio, disse que também não realizou nenhum bombardeio na área afetada.

Ainda assim, a oposição síria acusou o regime de ter utilizado "morteiros com gás químico". Este "crime horrível" lembra o ataque do verão de 2013 perto de Damasco, que a comunidade internacional deixou "impune", acrescentou, alertando que "colocava em xeque" o processo de paz destinado a acabar com um conflito que já dura mais de seis anos.

A aliança de combatentes rebeldes sírios Tahrir al Sham, dominada por Fateh al Sham, ex-braço sírio da Al Qaeda, prometeu nesta terça-feira vingar a morte de dezenas de pessoas em um suposto ataque químico.

"Pedimos a todos os combatentes de Sham (Siria) a incendiar os fronts", conclamou, em um comunicado publicado na internet, Tahrir al Sham.

'Intolerável'

Classificando o ataque de intolerável, Sean Spicer, porta-voz do presidente americano, Donald Trump, denunciou um "ato condenável" do regime de Assad.

Os Estados Unidos responsabilizaram o presidente sírio, Bashar al Assad, pelo ataque e exigiram que Rússia e Irã ajudem a evitar a repetição de episódios similares.

"Enquanto continuamos avaliando esta situação terrível, agora está claro que esta é a forma como Bashar al Assad opera: com barbárie brutal e incontrolável", expressou, em Washington, o secretário de Estado, Rex Tillerson.

Para o presidente francês, François Hollande, "mais uma vez o regime sírio nega a evidência de sua responsabilidade neste massacre".

"Embora não possamos estar seguros do ocorrido, ele tem todas as características dos ataques de um regime que usou reiteradamente armas químicas", disse o ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, em um comunicado.

A correspondente da AFP em Khan Sheikhun viu equipes de saúde tentando socorrer uma jovem, mas em vão. Seu pai, destroçado pela dor, a pegou nos braços, beijou seu rosto e a levou para fora do hospital.

A jornalista também viu pacientes com espuma saindo da boca. Muitos foram pulverizadas com água enquanto os médicos tentavam reanimá-los.

Segundo a correspondente, o hospital foi bombardeado posteriormente, provocando grandes danos no centro de saúde e a fuga dos médicos entre os escombros.

O ataque desta terça-feira coincide com o início de uma conferência de dois dias em Bruxelas sobre o futuro da Síria patrocinada pela União Europeia e pelas Nações Unidas, mas não é esperada a presença de alguns atores-chave, como Rússia e Turquia.

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