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Ao tentar cirurgia bariátrica, jovem quase morre, sai do hospital deformada e sem redução

Ao tentar cirurgia bariátrica, jovem quase morre, sai do hospital deformada e sem redução

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Cicatriz deixou a jovem desesperada

O que era para ser um sonho se tornou cicatriz e traumas, que talvez perdurem para sempre. Assim hoje é a vida da jovem Fatima Gabrielle Silveira de Oliveira. Jovem e com obesidade, Gabi como é chamada, via as fotos de antes e depois de amigos e conhecidos que tinham se submetido a cirurgia bariátrica e se animou em buscar o procedimento.

Foi aí que seu pesadelo teve início. A cirurgia, que inicialmente seria feita com alguns “furinhos” por videolaparoscopia, se transformou em uma imensa cicatriz na barriga (veja foto ao lado), uma infecção na cabeça e uma perna que até hoje “manca”.

“Fiquei duas semanas na UTI e quando acordei ficava perguntando qual cirurgia tinham feito em mim, porque eu via fazendo curativo e não entendia o tamanho daquela cicatriz”, conta a jovem.

Corajosa, ela ingressou com uma ação judicial contra os médicos e a clínica que a atenderam. “Não vi outra alternativa a não ser buscar a Justiça, porque hoje, olho na minha barriga e na minha perna e a dor é permanente. A revolta, o medo, e também minha vaidades. São marcas terríveis”, confessa Gabi sobre a enorme cicatriz.

A procura pelo médico não foi de imediato, pois era preciso que fosse alguém que fizesse parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Também havia muitos exames a serem feitos. O local escolhido pelo plano de saúde e pela equipe médica para o procedimento foi a Clínica Campo Grande e os médicos Francisco Gomes Rodrigues e Élio Ferraz Salvador Filho.

Abandono e desinformação

A maior reclamação de Fátima e da família é que ela teria sido “abandonada” pela equipe de cirurgia bariátrica. “Meus pais ficaram sem saber de nada e o médico, que em tese deveria fazer a bariátrica, não fez e meu estado ficou entre a vida e a morte sem as pessoas a quem confiei a minha vida explicarem nada”.

De acordo com o processo, a única oportunidade em que encontraram os dois, especificamente o Dr. Élio, foi no corredor do hospital e este relatou que iria verificar o estado da jovem e voltava para dar informações. “O que não ocorreu até a presente data demonstrando o descaso diante do estado em que todos se encontravam”, alegou o advogado. Devido a isso, a paciente também precisou ser submetida a hemodiálise, sendo transferida para o quarto.

Sem redução de estômago

A alimentação por sonda também chamou a atenção dos pais, que só aí descobriram que apesar de ter sido internada para uma gastroplastia, Gabi sairia de lá sem o procedimento realizado.

“Outra pergunta foi por qual motivo ela estava se alimentando por sonda já há 12 dias se ela não tinha feito a redução do estômago. Nisso o Dr. José Tadeu respondeu que tinha sido reconstruída uma parte do intestino dela e o médico até questionou a família se eles não sabiam. A resposta dele foi com ar de surpresa”, contou o advogado no processo.

A família questionou o médico, que afirmou que quando cicatrizasse, faria outra cirurgia, agora sim a bariátrica. “Ele muito calmamente falou que, como eu tinha uma aderência na alça do intestino e foi perfurado uma artéria importante, tive uma hemorragia e, ou abriam para saber onde era a hemorragia, ou eu morria. E ainda afirmou que, quando cicatrizasse, que ele ia fazer a bariátrica”.

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Muletas, infecção no couro cabeludo e uma conta de R$ 68 mil

Para completar um cenário de horrores, os laudos apresentados pela paciente mostram que foram lesionados dois nervos importantes da perna esquerda, onde ela avisou a equipe médica que não estava sentindo o membro. “Minha perna ficou manca, precisei andar de muletas e faço fisioterapia até hoje. Deu uma ferida na minha cabeça que caiu todo meu cabelo. Meu psicológico está destruído, porque isso me atrapalhou em tudo na vida. Do meu lado profissional ao financeiro, emocional e afetivo”.

Além disso, ficou para Fátima Gabrielle e os pais dela arcarem com uma conta no valor de aproximadamente R$ 70 mil. “Como se não bastasse, ficou para nós uma conta de quase R$ 70 mil para cobrir os procedimentos realizados por meio do convênio, que vão desde as cirurgias que nem saberia que seriam feitas até os dias no UTI”, revolta-se.

Para tentar seguir a vida, Fátima buscou na terapia e em si mesma as forças que precisa. “Não vou esquecer, o tempo não vai simplesmente apagar minha cicatriz, nem trazer de volta tudo que passei, por isso eu busco justiça”.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com o advogado da Clínica Campo Grande, Mansour Elias Karmouche, que informou estar viajando e assim que retornasse entraria em contato. O médico Hélio Ferraz Salvador não está mais cidade, tendo inclusive não sido citado no processo, segundo consta nos autos.

Foram enviadas mensagens para a clínica do médico Francisco Gomes, porém não houve retorno até o fechamento da reportagem.

No processo, ele e a Clínica Campo Grande se defenderam afirmando que não houve erro médico e sim procedimentos que foram necessários para “salvar a vida” da paciente. Uma das alegações é que, como Fátima Gabrielle está seguindo com a vida e, inclusive, “namorando”, os danos morais não seriam necessários.

Outro ponto da defesa é reduzir o valor da indenização de R$ 500 mil para R$ 20 mil no máximo, caso seja acolhido o processo.

Apesar da solicitação do advogado da vítima para que o processo corresse em segredo de justiça, o pedido foi negado pelo juiz o que deixa o processo disponível no site do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul garantindo o princípio da publicidade, descrito no artigo 5º, inciso LX, que estabelece a possibilidade de restrição, mas não eliminação, à informação dos atos processuais que devem ser públicos. Segundo os termos jurídicos, este princípio trata de direito fundamental que visa permitir o controle da opinião pública sobre os serviços da justiça, máxime sobre o poder de que foi investido o juiz.

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