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A menina de 13 anos que deu à luz após ser entregue pelos pais a seu estuprador

Caso só veio à tona após denúncia de hospital, e expôs situação que se repete pela América Latina, alerta organização.

O caso só veio à tona porque o hospital em que a menina fez o parto encaminhou denúncia à polícia (Foto: Divulgação/BBC)

Vania C., de 13 anos, chegou a acreditar que Elías V. era seu marido, e agora descobriu ter sido vítima de múltiplos estupros.

Segundo ela, o homem de 32 anos que a engravidou contra sua vontade era alguém que ajudava sua família (ela e os pais) a enfrentar graves dificuldades econômicas.

Por isso Vania nunca denunciou os abusos. Seus pais, de acordo com a polícia boliviana, aceitaram Elias como genro e entregaram a filha grávida a ele.

O caso não teria vindo à tona se não fosse a ação do hospital em Santa Cruz de la Sierra onde a menina deu à luz, que denunciou a história à polícia.

Denúncia que agora motivou um processo judicial por estupro qualificado contra criança.

Presentes

O diretor da Força de Luta contra a Violência da polícia boliviana, Gonzalo Medina, disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que Elias se aproximou de Vania por meio de presentes.

O estuprador conquista a menina com roupa e outras gentilezas. Os pais também recebem presentes e alimentos. E assim o aceitam como genro, disse.

Deste modo, Elias conseguiu não apenas ter relações sexuais sem consentimento com a menina de 13 anos, mas a levou para viver como sua mulher.

Os pais não veem isso como crime. Inclusive pensam que é uma situação de sorte, afirmou Medina.

Segundo os registros policiais do caso, a condição econômica de Vania e dos pais foi um dos elementos usados por Elias para se aproveitar da situação.

A família de Vania vem de uma comunidade rural que migrou em condições precárias para Santa Cruz, uma das maiores cidades da Bolívia.

O salvador

De acordo com Miriam Suárez, diretora da organização boliviana de auxílio legal e psicológico Casa da Mulher, casos como o de Vania se repetem com muita frequência com meninas desde os 10 anos.

As meninas estão muito expostas e não apenas por condições econômicas, mas pela violência nas casas e pela decomposição das famílias. Por isso fogem, e é quando acreditam ter encontrado um salvador, afirma.

A última pessoa que pode ser responsabilizada nesses casos, afirma Suárez, é a menina.

São esses salvadores que se aproveitam da pobreza e da desproteção. A menina nunca é culpada, é praticamente obrigada a se expor a abusos.

Ela acrescentou que, como no caso de Vania, muitas vezes os pais são cúmplices porque consentem com estupros e outros abusos.

São situações, afirma, que não geram apenas convivência forçada e estupros, mas servidão e abusos físicos.

É um problema que conhecemos em vários pontos da Bolívia, mas também ocorre no resto da América Latina, diz Suárez.

Liberdade

Elias V. foi preso logo que o caso veio a público. Contudo, horas depois, no último dia 27 de maio, ele foi posto em liberdade.

Ele usou o argumento que formava um casal com a menina e apelou aos usos e costumes da Bolívia.

Mas a polícia diz que ele não está livre das acusações. O pai de Vania também responderá no processo por estupro qualificado que tramita contra o agressor.

Enquanto isso, Vania permanece com seu bebê no hospital em que deu à luz. Aos 13 anos, ela já tem outra vida sob sua responsabilidade.

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