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Canindés encontram na cidade local adequado para reprodução

Em meio ao caos urbano, a beleza das araras colore Campo Grande

As araras azuis saíram no ano passado da lista de extinção, enquanto as Canindés dominam o cenário urbano e possuem roteiro turístico exclusivo em Campo Grande. Elas, inclusive, se tornaram ave símbolo da busca por políticas públicas de proteção a biodiversidade.

Pesquisadores do Instituto Arara Azul, como o biólogo Edson Diniz, explicam que fatores como o fácil acesso à comida e a estrutura de ninhos trouxeram as araras do campo para a cidade. Buritis e palmeiras imperiais são transformadas no ambiente ideal para a reprodução da espécie entre os meses de agosto e dezembro. Em média são colocados dois ovos, porém o ciclo de desenvolvimento raramente ultrapassa o de um filhote.

Foi o que aconteceu na Avenida Fábio Zahran, próximo à avenida das Bandeiras, onde oCorreio do Estado acompanhou roteiro realizado pelo instituto para turistas, com valores a partir de R$ 120. Eram para sair duas ararinhas do ninho, porém uma delas havia morrido semanas antes em decorrência da chuva intensa. Com 40 dias, a que ficou, grasnava alto ao ser retirada para registro do desenvolvimento do bico, peso e comprimento. Auxiliadas por escada e cordas, as biólogas Sabrina Appel e Aline Calderan, ainda tinham que encarar o olhar desconfiado de quem passava pelo local e não conhecia a pesquisa desenvolvida desde 2011. 

Os trabalhos, na verdade, foram iniciados como extensão de pesquisa da bióloga e professora doutora Neiva Guedes, que se dedica há 26 anos à preservação das araras azuis no Pantanal. Com viés urbano, o projeto permite compreender melhor a interação das araras Canindé em meio aos carros, fios e prédios. O filhote próximo da avenida, por exemplo, deve ter a plumagem completa para voar no fim deste mês.

Em outro ponto, no Bairro Chácara Cachoeira, visitamos uma palmeira imperial em frente a uma clínica odontológica. Afinal, dos 50 ninhos ativos na Capital a maioria está localizado em áreas particulares. 

A secretária Andreia Martins contou que o tronco virou ninho depois da chefe decidir cortar sua copa, porque a árvore prejudicava a calçada. Com isso, um jovem casal de Canindés adotou o endereço na Rua 7 de Setembro.

O barulho característico distrai os pacientes que, muitas vezes, param para contemplar a ave de 80 centímetros e atrasam o horário no dentista para tirar fotos. “Somos como pais adotivos torcendo para que eles dêem certo. Fico ansiosa porque esta é a terceira tentativa deles [de ter um filhote]”, relatou Andreia, aliada dos pesquisadores no monitoramento semanal.

Diferente das araras azuis, que comem apenas as castanhas de acuri e bocaiúva, as Canindés possuem cardápio mais amplo ao ingerir insetos, sementes, manga, caju, goiaba e sete copas. Por isso, não é raro encontrá-las nos quintais disputando espaço com papagaios, maritacas e maracanãs que também compõe a família Psittacidae.

Quase no fim do roteiro, que se encerra no ponto turístico da Praça das Araras, no airro Amamai, os pesquisadores nos apresentam o primeiro ninho de Arara Azul em Campo Grande. O azul cobalto do casal se destaca em meio à paisagem do cerrado.  É no meio de um lago e dentro do tronco de Buriti que eles escolheram constituir família. Na visita, haviam somente ovos e a espera agora será para ver se eles serão em breve uma nova arara voando no céu.

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