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CARTOLAGEM BANDIDA: Investigação do FBI escancara os esquemas de corrupção da Fifa 

Investigação do FBI escancara os esquemas de corrupção da Fifa e mostra como executivos da entidade e seus parceiros comerciais embolsaram milhões de dólares ilícitos. Agora, o futebol tem uma oportunidade única para virar esse jogo.

José Maria Marin, um senhor de 83 anos fanático por tintura de cabelo, colaborou com a ditadura brasileira, surrupiou uma medalha de um garoto, foi acusado de roubar energia elétrica do vizinho e mandou pendurar na fachada do prédio da CBF no Rio uma placa com o seu nome. Chuck Blazer é um nova-iorquino fanfarrão de 70 anos que conseguiu a façanha de gastar US$ 26 milhões do cartão de crédito corporativo, investindo em festas, prostitutas e artefatos decorativos africanos. José Hawilla, 71 anos, misterioso, recluso e sorumbático empresário do meio esportivo, tem medo da cor preta e não faz negócios em meses múltiplos de quatro (abril, agosto e dezembro), porque acha que eles dão azar. Joseph Blatter, um francês baixinho e gorducho de 79 anos, foi presidente de uma certa Sociedade Mundial de Amigos da Cinta-Liga e tem o hábito de conversar com a finada mãe, que mais de uma vez lhe pediu para fazer companhia no além. Os cavalheiros citados acima parecem ter em comum, além das estranhas manias, a mesma obsessão: amealhar a maior quantidade possível de dinheiro, mesmo que, para isso, tenham que cometer uma série de crimes. Todos estão intimamente ligados à Fifa, a entidade que rege o futebol mundial.Segundo investigação do FBI, a polícia federal americana, a Fifa não só serviu de escada profissional como forneceu os elementos para que alguns deles pudessem subornar, corromper, extorquir e lavar dinheiro. Marin foi preso. Chuck e Hawilla estão livres apenas porque, na condição de informantes, revelaram como se deu a rapinagem. Blatter não foi pego – ainda.

Na quarta-feira da semana passada, o hotel Baur au Lac, em Zurique, na Suíça, onde já se hospedaram Nelson Mandela e “pelo menos uma dezena de prêmios Nobel”, segundo o texto da propaganda, foi palco de uma ação policial extraordinária. Doze agentes do FBI chegaram à recepção às 6h, mostraram suas credenciais para o concierge e exigiram as chaves, parecidas com cartões eletrônicos, dos quartos de sete executivos que participavam do Congresso anual da Fifa. O elegante funcionário telefonou para cada um dos aposentos e deu rápidas instruções aos hóspedes. Eles deveriam abrir a porta ao toque da campainha ou a entrada seria arrombada. Tiveram apenas o tempo de se aprontar e separar documentos. Um a um os profissionais do futebol foram escoltados até uma saída lateral, sem algemas e com uma bagagem de mão. A notícia das prisões se espalhou pelos corredores, ultrapassou paredes e chegou aos 120 quartos lotados pela tropa da Fifa. Um sujeito desceu as escadas até a recepção, ainda de chinelos. Queria saber se estava na lista. As mulheres dos presos exigiam informações. Um assessor sentiu-se na obrigação de reunir o grupo, mas não havia muito o que dizer. Sabia apenas que as prisões haviam sido feitas pelo FBI, e que elas se deviam a denúncias de corrupção. Uma senhora caiu no choro. Outra tentava, desesperada, fazer contato por celular.

Iniciadas há 4 anos, as investigações do FBI concluíram que os presos receberam fortunas em propinas na venda de direitos de transmissão de jogos pela tevê, nos contratos de marketing para as Copas do Mundo de 2010 e 2014 e nos acordos de patrocínio para a seleção brasileira. No mesmo dia em que as prisões foram realizadas, Loretta Lynch, secretária de Justiça dos Estados Unidos, deu uma entrevista em Nova York ao lado de diretores do FBI e da Receita Federal americana. Segundo Loretta, as autoridades da Fifa embolsaram cerca de US$ 150 milhões ilegais como parte de uma complexa rede de subornos. “O esquema é generalizado e está profundamente enraizado numa organização que gera receitas bilionárias”, disse Loretta. De acordo com o FBI, a corrupção se prolongou por mais de 20 anos e envolve diretores da Fifa, empresários de marketing e intermediários que se aproveitam da popularidade do futebol para enriquecer de maneira ilícita. Os agentes afirmaram que as investigações partiram de seu país porque os conspiradores recorreram “pesadamente” ao sistema financeiro dos Estados Unidos para movimentar cifras astronômicas. O dinheiro do suborno teria sido depositado em contas dos bancos J.P. Morgan, Chase & Co. e Citibank, em Nova York. A incomum entrevista dos agentes americanos foi concluída com uma ameaça aos conspiradores. “Estamos só no começo”, afirmou Loretta.

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