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Corpo de Maria da Glória Sá será sepultado hoje na Capital

Professora ocupava cadeira 19 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Professora sofreu AVC e não resistiu (Foto: Reprodução/Facebook)

O corpo da professora e escritora da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Maria da Glória Sá Rosa, está sendo velado desde às 7 horas de hoje e será sepultado às 15 horas, em Campo Grande.

Maria Glória faleceu ontem à noite, aos 88 anos, no Hospital El Kadri depois de sofrer acidente vascular cerebral (AVC) no começo da semana. Ela ocupava a cadeira número 19 da Academia de Letras, que divulgou nota de luto.

Amigos afirmaram que o velório acontece na Pax Nipo Brasileira, na Avenida Mato Grosso.

HISTÓRIA

Natural de Mombaça (CE), Glorinha Sá Rosa, como também era conhecida, atuou durante 26 anos como professora na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde ensinou com dedicação e paixão literatura e história da arte.

Ainda embrenhou-se em outros mares ao se diplomar em francês e fundar a Aliança Francesa em Campo Grande. O espanhol também fez parte da sua experiência, ao ensinar o idioma em escolas superiores e secundárias.

Sua atuação na área das artes resultou na criação do Teatro Universitário Campo-grandense (TUC) e o Cine Clube de Campo Grande.

Na política assumiu o cargo de secretária-adjunta da Secretaria de Desenvolvimento Social; diretora executiva da Fundação de Cultura; presidente do Conselho Estadual de Cultura; superintendente da Secretaria de Cultura e Esportes; e, ainda, presidente da Fundação de Cultura.

CRÔNICAS

Na última terça-feira (26), como em muitas outras dos últimos anos, o jornal Correio do Estado publicou uma das crônicas da professora. Confira o texto na íntegra abaixo:

O mar por onde navegamos

No mar tanta tormenta e tanto danoNa terra tanta guerra e tanto enganoOnde pode acolher-se um fraco humanoOnde terá segura a curta vidaQue não se arme e se indigne o céu serenoContra um bicho da terra tão pequeno?Luiz Vaz de Camões

É difícil não lembrar Camões, nos confusos dias em que forças da terra, do ar, do mar parecem ter perdido o controle e somos lançados por antecipação no mundo do Apocalipse.

Além de tempestades, inundações, nevascas, incêndios, Oriente e Ocidente atravessam momentos de tensão com a perspectiva de atos terroristas, que transformam o medo no grande cúmplice da vidas de seres pequenos e frágeis, em sua contingência. 

Basta abrir os jornais e ligar a TV pra nos sentirmos participantes de uma guerra latente, eliminadora da tranquilidade interior. Por toda parte, escondem-se exércitos de mercenários com seu olhar cruel. Além das barbaridades do Estado Islâmico, da violência das grandes nações, precisamos conviver com a proliferação das drogas, das traições, da fome, da corrupção nos órgãos públicos e dos preconceitos geradores de desprezo a raças e indivíduos que julgamos inferiores a nós. Que fazer, senão, levantar os olhos ao céu e pedir compaixão a Deus e todos os santos?

Ressoam em meus ouvidos as palavras do Padre Manuel da Nobrega: “Este mundo não é pátria nossa, é desterro./Não é morada, é estalagem./Não é porto, é mar por onde navegamos”. No mar de angústias em que nos perdemos, o bicho da terra pequeno e frágil, embora capaz de ir a Lua, de transformar desertos em cidades, não descobriu a fórmula mágica que dissolve ou ameniza as horas de desespero.

 Ela repousa no próprio eu, onde ninguém soube detectá-la a contento. Uma amiga contou-me que sempre que sentia vontade de chorar e abominava cada minuto da própria existência, abria uma janela e dizia com Manuel Bandeira: ”Mas pra que tanto sofrimento se lá fora há o vento e um canto na noite? ”

Millôr Fernandes relatou certa vez que longe de casa, desiludido da vida e dos homens recuperou a vontade de viver lendo velhos jornais que descobriu no fundo de um quarto de hotel.

O remédio para as grandes dores é nunca perder a esperança, mesmo que ela esteja presa a fatores independentes de nossa frágil vontade, afinal, desde o tempo de Camões, o mundo já se tingia com as tintas da tragédia e das trevas a luz brotava, fruto da coragem dos homens de fé. 

Há os que sobrevivem ao desaparecimento dos sonhos, à morte de seres amados, apelando para o consolo da religião. 

Outros se embriagam com o licor do trabalho e não faltam os que ressurgem para uma vida melhor depois de curtir as agulhadas da dor. Num de seus mais belos poemas, Baudelaire nos aconselha a estar sempre ébrios: de vinho, do trabalho, da virtude. 

Afinal tudo passa e cabe a nós, envolvidos nas teias do medo do desespero, do horror do dia de amanhã levantar os olhos para o alto e dizer, como o poeta, que depois da noite vem o dia. Compete-nos, armarmo-nos de coragem e dizer com toda a força dos pulmões: “Clara manhã, obrigado. O essencial é viver”.

OBRAS PUBLICADAS

Estudo sobre Guimarães Rosa – 1967;

Análise Estrutural do Romance – 1971;

O Romance brasileiro atual Realismo Mágico e Realismo Mimético – 1976;

Análise Interpretativa do conto “Casa de Bronze” de João Guimarães Rosa – 1974;

Memórias da Cultura e da Educação em Mato Grosso do Sul;

Deus quer, o homem sonha, a cidade nasce - "Campo Grande Cem Anos de História”;

Crônicas de Fim de Século - 2001;

Contos de Hoje e Sempre - Tecendo Palavras;

Artes Plásticas em Mato Grosso do Sul (em parceria com Idara Duncan e Yara Penteado);

A Música de Mato Grosso do Sul, em parceria com Idara Duncan (FIC-MS, 2009);

A Literatura Sul-Mato-Grossense na ótica de seus construtores - 2011 (em parceria com a escritora Albana Xavier Nogueira).

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