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Corpos de amigos mortos por PMs no Rio serão enterrados nesta segunda

Policiais foram presos por homicídio doloso e fraude processual.Segundo parentes, PMs tentaram forjar flagrante para incriminar os jovens.

Os corpos dos cinco amigos de infância mortos na noite do sábado (28) após o carro em que estavam ser alvo de inúmeros disparos na Estrada João Paulo, na altura da curva do Vinte, em Costa Barros, no Subúrbio do Rio, vão ser enterrados no cemitério de Irajá na tarde desta segunda-feira (30).

De acordo com familiares, Roberto de Souza, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva Souza, 16, Cleiton Corrêa de Souza, 18, Wesley Castro, 20, e Wilton Esteves Domingos Junior, 20, tinham passado a tarde no Parque de Madureira, na Zona do Norte. Na volta, eles foram para a casa dos irmãos Wilton e Wesley e resolveram sair novamente para fazer um lanche, quando foram surpreendidos por policiais militares. 

Quatro PMs foram presos suspeitos do crime e responderão perante a Justiça comum e perante a Justiça Militar. Três deles responderão por homicídio doloso e fraude processual e um deles por frande processual.

Dor e sofrimentoO olhar perdido e sofrido não ameniza o desejo de justiça de Jorge Roberto Lima e Penha, de 50 anos, pai de Roberto de Souza Penha, um dos assassinados. Aquilo que aconteceu lá foi uma execução. Tudo que eu planejei na vida caiu. Essa perda não tem mais volta, mas eles precisam pagar pelo que fizeram, afirmou Jorge, que trabalha como montador da Odebrecht e faz faculdade de Direito.

Carro dos rapazes ficou com diversas marcas de tiro. (Foto: Janaína Carvalho / G1)

Os rapazes tinham saído para comemorar o primeiro salário de Roberto como Jovem Aprendiz no Atacadão de Guadalupe. Era tudo trabalhador. O meu filho começou a trabalhar agora no Atacadão, jovem aprendiz, primeiro emprego. Estava rindo à toa, estava de bem com a vida. O primeiro salário que recebeu foi brincar no Parque de Madureira com os colegas dele. Mais tarde tem essa notícia triste, lamentou Jorge.

Segundo Érika Esteves Domingos, tia de Wilton e Wesley, os policiais chegaram a ameaçar a mãe de Wilton com um fuzil. Minha cunhada queria ver o filho dela dentro daquele carro, mas o PM botou o fuzil na cara dela e disse que ia atirar em quem se aproximasse do carro. Quando chegamos deu para ver que o Wilton e o Carlos estavam agonizando e ainda estavam vivos. Pedimos para socorrer, mas eles não deixaram, contou Érika, ressaltando que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região fica a menos de 50 metros do local e ainda era possível tentar socorrer a dupla.

Jorge chorava muito na manhã deste domingo (29) na 39ªDP, onde o caso foi registrado. (Foto: Janaína Carvalho / G1)

Pai de uma das vítimas, Carlos Henrique diz que o filho Carlos Eduardo tinha acabado de concluir um curso de Petróleo e Gás e se preparava para tentar concurso para a Marinha. Eles chegaram a levantar os braços para fora e gritaram que eram moradores, mas não teve jeito, lamentou o taxista Carlos Henrique do Carmo Souza, 34 anos.Era um menino extremamente carinhoso e estudioso. Recebi essa notícia agora de manhã quando estava saindo para trabalhar, disse Carlos, que não mora na comunidade pois é separado da mãe de Carlos Eduardo.

“Eles estão alegando que eles eram bandidos. Como que eles eram bandidos num carro daqueles, num carro que mal se arrastava pela rua? Os jovens estavam vindo do Parque de Madureira, eles estavam alegres. É uma coisa que, realmente, não tem explicação”, completou Carlos Henrique.

As famílias esperam, agora, que os policiais continuem presos. A gente está esperando justiça. O que a gente está querendo aqui é justiça, que os policiais paguem por isso, e que realmente eles fiquem presos, disse o pai de um dos jovens.

Eu esperaria justiça, mas eu acho que não vai ter. Vai ser mais um na estatística do Brasil, porque esse é o nosso Brasil, essa é a nossa justiça. Quem tinha que nos proteger está matando. Infelizmente é isso. Como podemos acreditar nas forças armadas, se elas entram em uma comunidade tirando a vida de cinco inocentes, cinco jovens?, questionou Erika.

Jorge Roberto disse que agora não tem mais nada para chorar e que já perdeu tudo o que tinha na vida. Não é a primeira família que chora não, não é a primeira vez que acontece isso não, eu queria justiça mas infelizmente não está dando para suportar. Já perdi tudo na vida, agora acabou, não tenho mais nada. Não tenho mais nada para perder, não tenho mais nada para chorar, já era, disse Jorge.

Nota da Polícia MilitarO comando do 41º BPM (Irajá) abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para esclarecer as circunstâncias da ocorrência em Costa Barros, na noite deste sábado (28/11), envolvendo policiais do batalhão. Os agentes estão presos e serão transferidos para a Unidade Prisional. Os policiais responderão perante à Justiça comum e perante à Justiça Militar.Nota da Polícia CivilDe acordo com a 39ª DP (Pavuna), os policiais militares Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho foram presos em flagrante por homicídio doloso e fraude processual, e o policial Fabio Pizza Oliveira da Silva por fraude processual.Ainda segundo a unidade, foi realizada perícia no local e os corpos de Roberto de Souza Penha, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18 anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos, foram encaminhados para exame de necropsia no IML.  As armas dos policiais militares foram apreendidas e os veículos estão sendo periciados. Testemunhas estão sendo ouvidas.

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