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Guerra dos sexos: aumenta prontuário do tarado de Hollywood

A bomba atômica que começou com casos de assédio do produtor Harvey Weinstein continua a explodir; agora, até Bush pai é velhinho safado

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Divulgação

Alguns casos são para rir, outros para chorar. Outros, ainda, para nos perguntarmos por que tantas mulheres esperaram tanto tempo para contar episódios sórdidos. Algumas estão desafogando antigas mágoas – casos de assédio não saem facilmente da memória.

Outras dão a impressão que estão querendo aparecer, entrando numa onda movida à velocidade e à pressão coletiva das redes sociais. E ainda há as que contratam advogados conhecidos por conseguir grandes indenizações, um recurso perfeitamente legítimo nos acordos sobre assédio sexual, mas que cria um mal-estar: existem também as interesseiras?

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O caso para rir, até agora, é o do ex-presidente George Bush, pai. Aos 93 anos, há cinco em cadeiras de roda, ele está trocando a imagem de estadista veterano pela de velhinho safado – o esgarçamento dos freios sociais não é incomum na terceira idade.

Duas atrizes já disseram que, ao posar para fotos ao lado de Bush pai, ele passou a mão em suas nádegas. E fez piadinha infame. Um porta-voz do ex-presidente tentou explicar: como fica em posição inferior na cadeira de rodas, ele tenta descontrair o ambiente quando vai tirar fotos, conta a tal piada e algumas vezes “deu palmadinhas” naquele lugar inconveniente. Era para ser uma brincadeira, mas ele pede desculpas sinceras se pareceu outra coisa.

Dois jornalistas importantes foram afastados por causa de acusações de assédio que remontam há anos, apresentadas por cinco mulheres. Um deles é Mark Halperin, atualmente da rede NBC e de seu canal a cabo de notícias. Reconheceu que procurou se relacionar com colegas ou subordinadas. Entenda-se por isso passar a mão nos seios ou esfregar o pênis.

Dá para imaginar uma coisa dessas acontecendo numa redação americana? Leon Wieseltier, editor de uma conhecida revista de esquerda, a New Republic, já fechada, também reconheceu o mesmo tipo de comportamento. Andava pela redação dando beijos na boca. Perdeu a chance de chefiar uma publicação a ser criada pela viúva de Steve Jobs.

O fotógrafo Terry Richardson, famoso no mundo da moda pelas fotos provocantes, fora. Também rodou James Toback, um diretor pouco conhecido mas incrivelmente “produtivo” (mais de 200 acusações de assédio).

O modelo americano Kevin Sorbo trouxe do outro mundo uma história sobre Gianni Versace. Quando rejeitou avanços do estilista italiano, depois assassinado, dizendo que era hétero, Versace filosofou: “Na vida, você tem que transar com tudo. Com o cachorro, com o gato, o menino, a menina.”

Da caixa de horrores aberta pela exposição do produtor Harvey Weinstein também continuam a sair histórias quase inacreditáveis, muito além da imaginação de roteiristas de filmes pornográficos. Às vezes, a credulidade das envolvidas também é um desafio.

Mimi Haleyi tinha conseguido um estágio como assistente de produção com Weinstein em Nova ¥ork. Sabia das intenções dele – o sátiro enlouquecido nunca deixava dúvidas sobre o que queria.

Para “deixar claro” que não havia reciprocidade, Mimi aceitou ir com ele até seu apartamento na cidade. Faz sentido? Pois ficou ainda mais sinistro: Weinstein forçou-a a aceitar sexo oral, disse Mimi. Ela estava menstruada. Os detalhes serão poupados aos leitores.

A advogada de Mimi é Gloria Allred, o terror de ex-maridos e supostos ou reais assediadores. Foi com ela também que se apresentou para outra acusação a atriz norueguesa Natassia Malthe: disse que foi atacada logo depois de uma cerimônia do Bafta, o equivalente ao Oscar na Inglaterra, em 2008.

Tinha aberto para ele a porta de seu quarto de hotel e sofreu diferentes tipos de violação. Gritou, fez escândalo, chamou a polícia? Não, aceitou uma proposta para fazer um teste que a colocaria, potencialmente, no filme Nine. Começou a fazer aulas de canto e dança.

E lá veio outro convite para “discutir” o papel. A crédula Natassia foi até o Península, o hotel de Los Angeles que era a base do tarado de Hollywood. Encontrou-o recebendo sexo oral de uma assistente. Não aceitou o convite para participar. Ligou depois para dizer que não queria ser atriz a um preço assim.

A onda desencadeada depois das primeiras acusações contra Weinstein tem aspectos evidentemente gravíssimos e também elementos de fenômeno momentâneo, do tipo que explode nas redes sociais e cria uma espécie de efeito manada.

Nos Estados Unidos, aconteceram recentemente desde casos importantes, como as manifestações contra os monumentos em memória dos confederados na Guerra da Secessão, até outros mais folclóricos, como os protestos de jogadores de futebol americano que se ajoelham durante a execução do hino nacional, denunciando o racismo.

Nesses momentos de inflamação dos ânimos sociais, acontecem episódios ridículos. Como no caso do papel higiênico preto que virou crise racial algo exagerada no Brasil, até os flocos de milho entraram na dança.

Uma embalagem de cereal da Kellogg’s onde grãos de milho viviam personagens num shopping foi acusada de racismo. Motivo: o único grão de milho “marrom” – a expressão usada nos Estados Unidos para definição racial – fazia o papel de faxineiro. A empresa pediu desculpas.

Do milho marrom às barbaridades de Harvey Weinstein, o risco é que tudo se misture e dure apenas até o próximo fenômeno. Exceto, é claro, pelas indenizações. Estas vão rolar durante um bocado de tempo.

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