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Isso é Brasil: Após 20 anos, jovem atingida por bala perdida ainda briga na justiça por indenização

Quase duas décadas se passaram desde que Camila Magalhães foi atingida por uma bala perdida

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Divulgação

Quase duas décadas se passaram desde que Camila Magalhães foi atingida por uma bala perdida no Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, durante uma troca de tiros entre bandidos e seguranças de estabelecimentos da região. A jovem, hoje com 32 anos e inúmeras evoluções em seu quadro de saúde, ainda briga na Justiça para receber uma indenização dos lojistas da região que contrataram os profissionais envolvidos no tiroteio que ocorreu numa tentativa de assalto a uma joalheria.

A última decisão do caso é do STJ. No dia 22 de maio deste ano, o tribunal confirmou o parecer do Tribunal de Justiça do Rio, que determinou o pagamento de R$ 900 mil por danos morais e estéticos, mais um valor por danos materiais que ainda precisa ser estipulado. As empresas já recorreram da decisão. No entanto, de acordo com o advogado João Tancredo, que defende Camila, já será possível entrar com um pedido para que os valores comecem a ser pagos.

O tiro atingiu a jovem em seu pescoço e a bala ficou alojada na coluna. A então menina de 12 anos ficou tetraplégica (com paralisia de todos os membros). Após diversos tratamentos em quatro países e fisioterapia, ela retomou alguns movimentos e hoje está paraplégica (com paralisia só nos membros inferiores). Os gastos muitas vezes foram custeados com campanhas feitas para ajudá-la. Já uma das viagens, para Alemanha, o advogado conseguiu que fosse custeada pelo Estado. Em outro momento, Tancredo obteve uma antecipação de tutela para que os réus pagassem o tratamento feito na Itália.

A evolução do quadro de Camila ao longo dos anos surpreende os profissionais que acompanham a jovem. Atualmente, ela faz fisioterapia uma vez por semana e mantém ainda uma atividade física, que por causa do frio, voltará a ser musculação numa academia. A jovem sabe a importância de manter-se ativa e lamenta que não tenha acesso ao dinheiro da indenização, que poderia ajudar ainda mais na melhora de seu quadro.

- A morosidade do judiciário é uma parte muito triste. Ao invés dos lojistas estenderem as mãos para me ajudar, ao verem tudo isso que estou passando nesses 20 anos de tratamento, eu tenho que brigar pra conseguir algo que é o meu direito. Já fiz muita campanha para manter meu tratamento e essa morosidade infelizmente me prejudica até hoje. Eu poderia estar com uma qualidade muito melhor. Mas não posso desistir. Já passou muito tempo e agora falta muito pouco - afirma.

A decisão judicial determina que os lojistas paguem R$ 450 mil de danos estéticos e R$ 450 mil de danos morais, além de custear fisioterapia, fonoaudiólogo, psicólogo, psiquiatra, e remédios para a vítima. Eles também terão que pagar uma pensão vitalícia de um salário-mínimo por mês e dar para a jovem uma nova cadeira de rodas a cada cinco anos. Todos os valores ainda precisam ser recalculados por causa dos juros e correções monetárias.

- O interessante desse processo é que não conseguiram descobrir de onde partiu o tiro que atingiu a Camila (dos seguranças ou dos bandidos). Mas mesmo assim, o tribunal (de Justiça do Rio) entendeu que os seguranças, com a conduta deles, acabaram gerando risco para os consumidores. Eles reagiram por causa de um bem material e acabaram colocando muitas vidas em risco - explica João Tancredo.

Criminalmente, os irmãos Adilson e Vagner de Sá Siqueira, que tentaram assaltar a joalheria, foram condenados por roubo com resultado morte (latrocínio). Ambos cumpriram a pena de nove anos de prisão.

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