Buscar

Junto com Capital, obra do Aquário completa 4 anos de promessas

População afirma que será ‘mais uma rodoviária velha’

A obra do Aquário do Pantanal, o prometido centro de turismo e pesquisa científica, carregando a ‘vanguarda’ de ser o maio aquário da América do Sul, faz aniversário junto com a capital de Mato Grosso do Sul. Campo Grande faz 117 anos nesta sexta-feira (26) e o Aquário já tem 4 anos de promessas, escândalos de corrupção e demora na entrega.

No Parque das Nações Indígenas, um dos maiores símbolos de Campo Grande, a estrutura, coberta pelo metal, parece um grande ‘dirigível’e destoa em meio ao verde do parque. O poder público certamente tocou em um dos ‘calcanhares de aquiles’ do campo-grandense ao construir a obra no local. As opiniões, mesmo divididas, são eloquentes, já que o Parque ainda é um dos espaços mais utilizados para a convivência dos moradores da capital.

Lugar errado, obra errada

Antonio Godoy, 49, trabalha como autônomo e é um ‘eterno desconfiado’ da obra. Ele afirma que ‘desde o início já afirmava que seria um motivo para desviar dinheiro público.“Eu fico indignado. Quando anunciaram eu estava aqui, sempre caminho por aqui. E falaram que iria custar R$ 80 milhões. Aí eu já falei: vocês vão ver, isso vai sair por mais de R$ 300 milhões”, conta.

“Acho que seria legal desde que os outros setores estejam todos 10. Agora construir esse negócio com as coisas como estão”, critica. Antonio também critica a morte de espécies de peixes no local. “Os peixes morreram todos, quer dizer, e aí?”.

“O cara sumiu com o dinheiro, não tem nem hospital. O governador é acusado e não preso, fico indignado”, reclama.

Para quem trabalha no parque e tem o local quase como uma segunda casa, a desconfiança com qualquer coisa que altere a paisagem já é esperada. “Quando lançou já pensei que seria um álibi pra desviar”, comenta Claudio Roberto, 47, vendedor de água de coco.

“Pelo que eu sei os funcionários nem receberam nos últimos três meses de 2015”, afirma. O vendedor também denuncia que ‘todo mundo que trabalha no parque via os empreiteiros carregando os materiais’. “Os caras vinham, falavam que eram empreiteiros e carregavam”.

Para o vendedor, o Aquário não combina com o Parque. “Eu acho que deveria ter sido construído em outro local. Aqui é um lugar bonito, saudável. Acabaram com os estacionamentos, todo mundo reclama. Os pés de manga, todo mundo podia pegar manga aqui, aí mataram todos as árvores pra ter vista pro Aquário”, afirma.

Lugar certo, obra certa, corrupção errada

Para os amigos e publicitários que frequentam o parque, Gabriel Hespporte, 27 e Pedro Camargo, 27, a obra é ‘bonita’ e ‘garante um visual’ ao Parque das Nações. O problema? Os esquemas de desvios de verba investigados pelo MPE (Ministério Público Estadual) e a demora na conclusão.

“Se tivesse sido feito sem a corrupção seria muito bom. Se não fosse pelo dinheiro desviado. O problema é que não foi em prol da cidade, mas sim pelo dinheiro”, opina Gabriel.

“Acho uma boa, tem uma arquitetura interessante, atrai o turismo, mas a corrupção, a propina é que são o problema”, defende Pedro.

Lilian Carvalho, 34, é turismóloga, logo, além de parte interessada no local, a profissional também acompanhou a ‘novela’ da construção. Ela também defende que o local foi um acerto para a construção e que o Aquário tem potencial para explorar diversos setores do turismo.

“A ideia do projeto é excelente. Já que o foco de Campo Grande sempre foi o turismo de negócios, iria movimentar outros setores do turismo e gerar movimentação e renda. Mas, infelizmente, existe esse desvio absurdo. Cheguei a conhecer um biólogo que veio da Espanha e largou mão. Viu que o foco não era a pesquisa. O pagamento dele atrasou e ele foi embora”, declarou.

Apesar dos problemas, ela defende a conclusão. “Tem que terminar, já que começou termina, porque a ideia é boa. Abandonar não é o ideal”, comenta.

O protetor do Parque e das árvores

Em meio às reclamações sobre desvios, arquitetura e ‘inutilidade’ do Aquário, o porteiro do Parque das Nações, de 27 anos, levanta a voz de maneira tímida e lembra: ‘cortaram diversas árvores, acho que não deveria’.

Na perspectiva de Willian Clayton, o Parque, apesar de grande, perdeu um espaço importante. “Tinha um bosque bem bonito. Tá certo que o Parque é grande mas várias famílias ficavam ali, era um ponto bem procurado”, comenta.

Investigação

A obra foi um projeto do governo de André Puccinelli (PMDB). A construção foi paralisada em novembro de 2015 em razão da Proteco, uma das principais empresas investigadas pela Lama Asfáltica, de propriedade de João Amorim, empresário e um dos pivôs da operação. Com prisão preventiva durante a terceira fase da investigação, João Amorim conseguiu a liberdade no início de julho. As obras só foram retomadas em abril deste ano.

A empresa Egelte alegava  ter repassado a construção para Proteco Construções. O impasse foi solucionado somente no dia 17 de março com intermediação da Justiça. A empresa e assinou um acordo homologado junto a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul).

Em junho de 2015, relatório produzido pelo O laboratório Anambi e entregue à Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul) afirmava a mortalidade de 80,8% dos peixes que estavam em quarentena no Aquário.

A Seinfra (Secretaria de infraestrutura do estado) afirma que até o momento a obra recebeu investimentos de R$ 200 milhões de reais. “Em declaração recente, o governador Reinaldo Azambuja estimou o custo total da obra que chegará a R$ 267 milhões de reais”, declarou.

A secretaria afirmou que a obra passa apenas por ‘reparos’ e que a retomada da construção depende da justiça. “Só teremos previsão para o término quando a justica determinar a questão do aditivo para a Egelte”.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.