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Modelo supera medo, se assume trans e planeja carreira internacional

Após toque de dona de agência, jovem do DF contou a amigos e familiares.Leandra fez três desfiles; ela conta haver preconceito no mundo da moda.

A modelo Leandra Calandrini, de 21 anos (Foto: Leandra Calandrini/Arquivo Pessoal)

A brasiliense Leandra Calandrini, de 21 anos, viu o sonho de se estabilizar na carreira de modelo ficar mais próximo depois de superar os próprios preconceitos e se assumir transexual. A jovem conta que se via como mulher desde criança, mas temia ser excluída caso dissesse não se encaixar no corpo de rapaz. A dona da agência onde trabalha atualmente foi essencial no processo.

Eles abriram a porta para mim super de boa. [...] A própria dona falou: Você tinha que se decidir e você fez certinho. No começo, ela falou: Você não pode ficar nisso de androginia [como vinha trabalhando desde 2011] porque não vai durar para a vida toda. E você sabe o que você é, então se decida. E foi o que eu fiz. Eu sempre me vi como mulher, mas eu tinha medo, lembra.

Leandra começou contando aos amigos, no início do ano. Depois procurou a família para explicar o que acontecia e qual decisão havia tomado. A reação das pessoas a surpreendeu, e ela decidiu adotar o feminino do nome com o qual foi registrada ao nascer. 

Eu tinha medo de exclusão, essas coisas, de deixarem de falar comigo, mas eu acho que o medo maior mesmo foi meu, para me aceitar foi mais difícil. Para eles foi bem mais fácil, afirma. Desde criança me vejo como uma garota. Sempre brinquei de boneca, dava escândalo para brincar, aí acabavam comprando para mim. E brincadeira era essa, de boneca. E sempre do lado das meninas, até na escola.

Com três desfiles no currículo e o quarto realizado nesta quinta-feira (19), a jovem diz haver barreiras até no mundo da moda. Leandra conta já ter sido excluída de eventos por descobrirem que ela era transexual.

Preconceito tem em todo lugar. Quando falam que não tem no mundo da moda, tem sim. Muitas vezes já me quiseram em algum casting, algum desfile, aí falavam ela não é ela, essas coisinhas, explica. Na hora, dá aquele burburinho, né, nossa, ela é trans. Mas depois meio que [a empolgação] vai acabando. Aí começam a te deixar de fora de casting, de desfile. É complicado, sim, mas você tem que mostrar que você é capaz.

A modelo conta que sonha em ser reconhecida no Brasil e em fazer carreira internacional, desfilando em cidades como Paris e Milão. As principais inspirações são Giselle Bundchen e as também trans Lea T e Andreja Pejic.

Além disso, Leandra conta que começou a fazer terapia hormonal há três meses – uma das etapas no processo para mudança de sexo – e pretende fazer faculdade de moda. Eu me julguei muito, tinha medo do que ia acontecer. [Hoje me sinto] Bem mais [feliz]. Melhor coisa é se sentir bem.

A transexualidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno de identidade de gênero e ocorre quando a pessoa se vê como sendo de um sexo oposto ao qual nasce – não necessariamente ela precisa operar.

A brasiliense Leandra Calandrini, que quer seguir a carreira de modelo (Foto: Leandra Calandrini/Arquivo Pessoal)

A discriminação motivada unicamente por orientação sexual ou gênero não é considerada crime. Atualmente, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados está analisando o projeto de lei 122/2006, que criminaliza a situação.

A modelo transexual Leandra Calandrini, de Brasília (Foto: Leandra Calandrini/Arquivo Pessoal)

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