Publicado em 04/09/2015 às 15:44, Atualizado em 26/10/2016 às 13:00
Comunidade do morro Santa Tereza reclama da atuação policial na área.Jovem morreu na quinta-feira (3) com tiro disparado por um PM.
Os moradores da Vila Gaúcha, no Morro Santa Tereza, na Zona Sul de Porto Alegre, onde umjovem foi morto por um tiro efetuado por um policial militar na quinta-feira (3), seguemindignados e revoltados com o caso. Eles reclamam da ação policial na região, que consideram violenta, e reiteram que o disparo atingiu Ronaldo de Lima, 18 anos, pelas costas. A Brigada Militar sustenta a informação que recebeu logo após o episódio: de que houve confronto depois que o morador reagiu (veja na reportagem do Jornal do Almoço da RBS TV).
Imagens registradas no beco Buraco Quente, como é conhecida a área onde aconteceu o crime, mostram o corpo do jovem caído no chão, de bruços. Na manhã desta sexta (4), a Polícia Civil informou que o exeme de perícia indica que o disparo atingiu as costas de Ronaldo. O Instituto Geral de Perícias (IGP), porém, ainda não se manifestou de forma oficial sobre resultados de perícias.
Após o episódio, a comunidade faz denúncias graves sobre a ação dos PMs na vila. Um dos moradores afirma que há cobrança de propina a moradores para que traficantes presos sejam soltos.
Eles vem aqui, tentam pegar alguém grande, mas eles não conseguem pegar ninguém, né? E quando eles pegam eles querem dinheiro, e isso e aquilo, afirma outro morador, também sem ser identificado. Em torno de R$ 8 mil reais. R$ 8 mil reais para cima, completa ele.
As abordagens realizadas pela Brigada Militar, segundo a comunidade, muitas vezes é violenta. Eu tenho medo. Eles ameaçaram de me enxertar com droga já, diz o presidente da Associação dos Moradores da Vila Gaúcha, Darci Campos dos Santos. Não aceito a violência. Chegam dando coice, pontapé. Pô, vamos respeitar, tem criança aqui dentro, comenta.
Amigos e parentes dizem que Ronaldo não tinha antecedentes criminais e que voltava de uma festa quando foi atingido pelo tiro. A Brigada Militar informa que o jovem tem passagens pela polícia por roubo a estabelecimento comercial e porte de arma.
O tenente-coronel, Mário Ikeda, comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), diz que um Inquérito Policial Militar já foi instaurado e vai apurar a conduta dos PMs e o que houve no Morro Santa Tereza. Sobre a acusação de recebimento de propina por parte de policiais, Ikeda afirma que o relato dos moradores será levado em consideração.
Tomei conhecimento agora. Todas essas denúncias são importantes para que a gente possa apurar e responsabilizar quem está cometendo esse tipo de delito, diz. Tem o 181, que é o disque-denúncia. Ali a pessoa não precisa se identificar, sugere.
No dia seguinte, PMs ocupam entrada do beco
Um dia após a morte do jovem, uma viatura da Brigada Militar, com três PMs, está posicionada próximo à entrada do beco. Na madrugada, apesar da tensão das últimas horas, a sensação era de tranquilidade
Funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana fizeram a limpeza da rua.
Logo depois que Ronaldo foi morto, dois ônibus e uma lotação foram incendiados, a poucos metros da cena do crime. Os veículos estavam em seus terminais, estacionados. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento que um grupo ateia fogo nos ônibus.
Por isso, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) suspendeu a criculação de sete linhas de ônibus que trafegavam pela região do Morro Santa Tereza e da Vila Cruzeiro ao longo do dia. Os veículos particulares também não puderam circular nesses locais.
O serviço também foi prejudicado na manhã desta sexta (4), porque os rodoviários, temendo pela segurança, não saíram das garagens nos primeiros horários para trabalhar. Pouco depois das 7h30, a circulação se normalizou. Porém, perto das 10h, o serviço foi suspenso novamente.
Motoristas e cobradores relataram ameaças de nova queima de veículos. A guarita do fim da linha 195 - TV, cujos veículos foram queimados, foi esvaziada e os ônibus recolhidos para as garagens por volta das 10h.
Morte gera comoção e revoltaImediatamente após o disparo, os moradores começaram a sair de casa e protestar contra a ação dos PMs. Pedras foram arremessadas contra as viaturas e pneus foram queimados.
A perícia chegou ao local cerca de duas horas e meia após a morte. Peritos e PMs tiveram que ser escoltados para caminhar pelo beco e retirar o corpo do chão.
Poucos minutos depois, o corpo foi removido sob vaias e protestos, e levado para o Instituto Geral de Perícias.