Publicado em 03/03/2016 às 14:21, Atualizado em 26/10/2016 às 14:26

MS é um dos maiores corredores do contrabando no país, aponta estudo

Afirmação é de estudo do Idesf, lançado nesta quinta em Campo Grande.O trabalho mapeou as principais entradas de mercadorias ilegais no país.

G1,
Apreensão de contrabando de cigarros em Mato Grosso do Sul (Foto: Osvaldo Duarte/Divulgação)

Mato Grosso do Sul é um dos maiores corredores de entrada de produtos contrabandeados do país.Pelas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia entram ilegalmente no estado: cigarros, bebidas, vestuário, eletrônicos, medicamentos, cosméticos, pneus, drogas e armas. Essas mercadorias abastecem os mercados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.

Essa é uma das conclusões do estudo “Rotas do Crime – As encruzilhadas do Contrabando”, lançado nesta quinta-feira (3), em Campo Grande, pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). O trabalho mapeou as principais entradas de mercadorias ilegais e o caminho percorrido por esse crime no país.

O presidente da entidade, Luciano Stremel Barros, apontou que no ano passado houve um aumento significativo de entrada e de rotas de contrabando em Mato Grosso do Sul, por conta da intensificação da ação policial contra esse crime no estado do Paraná.

“Essas mudanças comprovam que a dinâmica da indústria do contrabando é bastante adaptável, e se move mais rápido que o Poder Público, por isso, precisamos de ações ainda mais efetivas para combatê-las”, afirmou.

Stremel lembrou que apesar do contrabando financiar e estimular uma série de outros delitos, ele é antes de tudo um crime econômico, que ocorre porque o preço do produto fora do país é mais barato que no Brasil. Portanto, uma das primeiras medidas que ele sugere para combater esse crime é a redução da carga tributária para os produtos que são alvos da prática.

Ele lembrou que com o ingresso e distribuição destes produtos, que não pagam impostos, não geram empregos e ainda alimentam a criminalidade, o Brasil teve um prejuízo em 2015, somente com a evasão fiscal de R$ 115 bilhões, o que representou um crescimento de 15% em relação a 2014.

Outro aspecto destacado pelo presidente do Idesf foi o da necessidade de aumentar os efetivos dos órgãos de segurança. “O indicado é que o país tivesse um policial para cada 200 habitantes, mas nós temos 1 para cada 400. Com isso, temos uma carência de mais de 300 mil agentes, além de infraestrutura e veículos para que esses policiais possam fazer seu trabalho”, destaca.

Com essa falta de efetivo, ele apontou que as cidades que estão na rota do contrabando sofrem sérios problemas econômicos e sociais, como desemprego, violência, evasão escolar e baixa autoestima da população, o que dificulta o desenvolvimento destas municípios e seus habitantes.

Na publicação, o instituto cita o caso de alguns municípios do estado enquadrados como “cidades gêmeas”, por terem uma fronteira direta com uma outra cidade no país vizinho. O trabalho aponta que entre as “cidades gêmeas” do país, o município sul-mato-grossense de Coronel Sapucaiateve em 2013 o maior índice de homicídios, 95,84 por um grupo de 100 mil habitantes, e que Ponta Porã, Paranhos e Mundo Novo estavam na terceira, quarta e quinta posições dessa listagem, com índices de 48,96, 45,72 e 45,31, respectivamente.

Ainda como medidas para combater o contrabando, o presidente da entidade sugeriu o diálogo com os países vizinhos, ações conjuntas que envolvam o Poder Público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada e ainda iniciativas específicas e efetivas na área de fronteira.

O superintendente da Receita Federal da 1ª Região Fiscal, José Oleskovicz, destacou durante o evento, que com iniciativas com a do instituto que fez o estudo, a sociedade mostra que está se mobilizando e tomando consciência da gravidade do problema que o contrabando representa para o Brasil.

Ele lembrou que na medida do possível a Receita Federal está intensificando o combate ao contrabando e citou como exemplo desse esforço a aquisição de scanners móveis para a fiscalização das áreas de fronteira do estado, o que deve assegurar mais agilidade e eficiência no controle do ingresso de produtos ilegais no país. “Entre 2010 e 2014 houve um aumento de 35% nas operações contra o contrabando e de 40% nas apreensões, o que representou aproximadamente R$ 1 bilhão em produtos apreendidos por ano”, comentou .

Já José de Freitas Legas, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, destacou que a segurança das fronteiras é uma grande preocupação do governo federal, tanto que deve ser desenvolvido em Mato Grosso do Sul a partir ainda de março um novo tipo de operação que vem apresentado resultados muito positivos no Paraná.

Segundo ele, são operações integradas, que envolvem unidades como a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força de Segurança Nacional, mas com efetivos menores, o que possibilita que tenham mais agilidade para fazer a fiscalização e possam ser prolongadas por um período maior e com menor custo. Essas ações, conforme ele, devem contar inicialmente com efetivo do estado e serem reforçadas por pequenos contingentes vindos de outras unidades da federação.

Por sua vez, o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB) destacou que a questão da segurança nas fronteiras tem de ser discutida como uma política pública de estado e não de governo, de modo que fique livre de questões políticas e partidárias, e de modo a integrar os esforços da União, dos estados e dos municípios. “Em Mato Grosso do Sul aumentamos no ano passado em 25% os investimentos em segurança pública e contratamos mais 1.660 policiais. Mas sozinhos não vamos conseguir resolver os problemas da fronteira. O estado tem 1.517 quilômetros de fronteira. É uma extensão muito grande. Precisamos de apoio e parcerias”, ressaltou.

O governador apontou ainda que nos municípios de fronteira o investimento contra o contrabando também demanda a destinação de recursos para promover o desenvolvimento socioeconômico destas cidades, de modo que elas cresçam e a população tenham mais oportunidades de emprego e de geração de renda.

RotasO estudo apontou que a BR-163, que corta o estado longitudinalmente, é uma das grandes rotas do contrabando no estado e que geralmente em algum momento do transporte o produto que entrou ilegalmente deve cruzar a estrada. Além dela, citou como principais vias de escoamento dessas mercadorias para outros estados as BRs: 267,262,060,463,419 e 158.

O estudo indicou ainda que em Mato Grosso do Sul a faixa de fronteira seca do Brasil com o Paraguai, a chamada  “linha internacional acaba favorecendo o fluxo do contrabando.  “Este trecho de aproximadamente 1.131 quilômetros de estrada de chão passa quase que em sua totalidade por propriedades rurais, sem nenhuma infraestrutura e policiamento em seu percurso, permitindo assim, que o contrabando atravesse livremente”, destaca um trecho da publicação.