Em números absolutos, Mato Grosso do Sul teve 33 índios assassinados em 2013, quantidade que coloca o estado em primeiro no ranking de homicídios contra indígenas segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado na quinta-feira (17). Conforme a entidade, o valor representa 62% da quantidade de óbitos pelo mesmo motivo no Brasil.
Do número total de casos, 31 foram cometidos entre pessoas da etnia guarany-kaiwá e dois contra terenas. Houve queda em relação a 2012, quando foram registradas 37 mortes. No Brasil, em 2013, foram 53 homicídios cometidos contra indios. Entre as vítimas, 43 são homens e 6 mulheres. Nos outros quatro casos, o sexo dos envolvidos não foi determinado.
Pelo menos 15 óbitos, conforme o Cimi, ocorreram em função de brigas ou tiveram relação com consumo de álcool. Seis foram em virtude de conflitos agrários. Uma das vítimas foi o terena Oziel Gabriel, baleado durante uma tentativa de reintegração de posse em uma região conhecida como Buriti, em Sidrolândia, a 64 km de Campo Grande.
O assessor jurídico do Cimi em Mato Grosso do Sul, Luiz Henrique Eloy, explicou ao G1 que a intenção do documento, feito há 20 anos pela entidade, é denunciar a violência sofrida pelos povos indígenas no estado.
A leitura que nós fazemos é que essa violência está intimamente ligada à questão territorial. As comunidades que estão acampadas às margens de estradas ou que estão confinadas em pequenas reservas concentram esses números de violência, disse.
Segundo ele, não é descartada a possibilidade de que seja feita uma denúncia internacional da situação. O Brasil é um país que assina todos os tratados de direitos humanos, mas esses tratados não estão sendo cumpridos, os direitos humanos não estão sendo respeitados.
Mato Grosso do Sul também lidera o ranking de suicídios cometidos por indígenas. O Cimi contabilizou 50, enquanto dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) apontam 73 mortes por esse motivo, índice que sofreu aumento em relação a 2012, quando foram registradas 53 mortes desse tipo. Das vítimas, 72 pertenciam à etnia guarany-kaiwá, a maioria com idades entre 15 e 30 anos.
Para o sociólogo Paulo Cabral, os índices de violência no estado podem ter diversos motivos. Primeiramente, é preciso entender que as capacidades de adaptação às adversidades variam de etnia para etnia, algumas têm mais facilidade em lidar com mudanças, como por exemplo os terenas. Os guarany-kaiwá, segundo ele, têm uma situação mais complicada ligada à miserabilidade e discriminação.
A proximidade com a cidade favorece o contato com drogas lícitas e ilícitas e isso de alguma maneira também pode contribuir para um incremente da violência, explica. Fatores ligados à disputa por terra podem contribuir para uma acentuação do problema.
Para os guarany-kaiwá, diferente dos ofaié, eles querem aquelas terras em que seus ancestrais estão sepultados. Muitos tekohas [terras consideradas sagradas] foram distribuídas pelo Governo Federal. O outro pedaço da situação são alguns espertalhões que de fato esbulharam terras indígenas, fala o sociólogo.
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