Publicado em 18/07/2014 às 08:32, Atualizado em 26/10/2016 às 10:11
Estado reúne 62% dos assassinatos de indígenas do Brasil, diz relatório.Especialistas falam sobre as circunstâncias do conflito no estado.
Em números absolutos, Mato Grosso do Sul teve 33 índios assassinados em 2013, quantidade que coloca o estado em primeiro no ranking de homicídios contra indígenas segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado na quinta-feira (17). Conforme a entidade, o valor representa 62% da quantidade de óbitos pelo mesmo motivo no Brasil.
Do número total de casos, 31 foram cometidos entre pessoas da etnia guarany-kaiwá e dois contra terenas. Houve queda em relação a 2012, quando foram registradas 37 mortes. No Brasil, em 2013, foram 53 homicídios cometidos contra indios. Entre as vítimas, 43 são homens e 6 mulheres. Nos outros quatro casos, o sexo dos envolvidos não foi determinado.
Pelo menos 15 óbitos, conforme o Cimi, ocorreram em função de brigas ou tiveram relação com consumo de álcool. Seis foram em virtude de conflitos agrários. Uma das vítimas foi o terena Oziel Gabriel, baleado durante uma tentativa de reintegração de posse em uma região conhecida como Buriti, em Sidrolândia, a 64 km de Campo Grande.
O assessor jurídico do Cimi em Mato Grosso do Sul, Luiz Henrique Eloy, explicou ao G1 que a intenção do documento, feito há 20 anos pela entidade, é denunciar a violência sofrida pelos povos indígenas no estado.
A leitura que nós fazemos é que essa violência está intimamente ligada à questão territorial. As comunidades que estão acampadas às margens de estradas ou que estão confinadas em pequenas reservas concentram esses números de violência, disse.
Segundo ele, não é descartada a possibilidade de que seja feita uma denúncia internacional da situação. O Brasil é um país que assina todos os tratados de direitos humanos, mas esses tratados não estão sendo cumpridos, os direitos humanos não estão sendo respeitados.
Mato Grosso do Sul também lidera o ranking de suicídios cometidos por indígenas. O Cimi contabilizou 50, enquanto dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) apontam 73 mortes por esse motivo, índice que sofreu aumento em relação a 2012, quando foram registradas 53 mortes desse tipo. Das vítimas, 72 pertenciam à etnia guarany-kaiwá, a maioria com idades entre 15 e 30 anos.
Para o sociólogo Paulo Cabral, os índices de violência no estado podem ter diversos motivos. Primeiramente, é preciso entender que as capacidades de adaptação às adversidades variam de etnia para etnia, algumas têm mais facilidade em lidar com mudanças, como por exemplo os terenas. Os guarany-kaiwá, segundo ele, têm uma situação mais complicada ligada à miserabilidade e discriminação.
A proximidade com a cidade favorece o contato com drogas lícitas e ilícitas e isso de alguma maneira também pode contribuir para um incremente da violência, explica. Fatores ligados à disputa por terra podem contribuir para uma acentuação do problema.
Para os guarany-kaiwá, diferente dos ofaié, eles querem aquelas terras em que seus ancestrais estão sepultados. Muitos tekohas [terras consideradas sagradas] foram distribuídas pelo Governo Federal. O outro pedaço da situação são alguns espertalhões que de fato esbulharam terras indígenas, fala o sociólogo.