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Mulheres ficam seminuas no Facebook em ato contra estupros

Mulheres de todo o Brasil estão protestando pelo Facebook após o resultado de uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) que apontou que a maioria dos brasileiros acha que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. 

Segundo a pesquisa, 65,1% das pessoas – incluindo homens e mulheres – concordaram com essa informação. Já 58,5% concordam com a afirmação “Se mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. 

A reação diante da pesquisa foi imediata e uma campanha online chamada “Eu não mereço ser estuprada” foi ganhando força na rede social. Utilizado a hashtag#EuNãoMereçoSerEstuprada, as internautas postaram fotos seminuas dizendo que as vestimentas não são motivo para nenhum crime sexual.

Até as 11h30 deste sábado, a comunidade Eu não Mereço Ser estuprada tinha 514 participantes na rede social. Outras duas com temática semelhante somavam mais 500 membros.

Pelo Twitter, até a presidente Dilma Rousseff se manifestou sobre o resultado da pesquisa. Ela defendeu nesta sexta-feira tolerância zero à prática deste tipo da violência contra a mulher. 

Pesquisa do Ipea mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher. Mostra também que governo e sociedade devem trabalhar juntos para atacar a violência contra a mulher, dentro e fora dos lares, escreveu Dilma.

Machismo impregnadoA revelação de que a maioria dos brasileiros concorda que o comportamento da mulher pode motivar o estupro comprova que a cultura machista está impregnada nos homens e nas mulheres da sociedade brasileira, segundo a socióloga e integrante do Colegiado de Gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Nina Madsen.

Nossa sociedade é violenta contra as populações marginalizadas e as mulheres compõem essa população. A culpa da violência sexual nunca é das mulheres. Temos que educar os meninos a não estuprar. Hoje eles aprendem que uma menina que se veste de uma determinada forma está provocando e que eles têm uma pretensa autorização para fazer uso daquele corpo que está sendo exposto. Temos que interferir nesse processo, disse Nina.

Para a socióloga, os parâmetros educacionais e culturais precisam ser modificados. É preciso atuar com muita força e continuidade na mudança cultural e a educação formal tem que incorporar os conteúdos que dizem respeito aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero, acrescentou.

Nina ressalta que o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que está tramitando no Congresso, prevê uma educação voltada para a promoção da igualdade de gênero. No entanto, diz a socióloga, esse princípio está sendo questionado por grupos conservadores, sobretudo pela bancada evangélica, que querem retirá-lo do texto.

Os grupos conservadores estão numa campanha ferrenha para que isso seja eliminado do texto do plano. Eles estão combatendo o que chamam de uma ideologia de gênero. Isso é um retrocesso gravíssimo. Se o governo permitir que isso aconteça estará sendo conivente com essa cultura do estupro revelada nesses dados que o Ipea apresentou, disse Nina.

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