Buscar

Saiba quem são os criminosos que comandam o Primeiro Comando da Capital - PCC

De dentro do presídio de Presidente Venceslau, os líderes da facção ordenam as ações do grupo, que fatura mais de 7 milhões de reais por mês

a semana passada, uma operação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo prendeu quarenta pessoas – entre elas dois adolescentes – numa ação destinada a desmontar a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC). 

A operação evidenciou que, embora São Paulo seja o principal centro de distribuição de drogas do PCC, o comando operacional da facção se espalhou além das fronteiras do Estado e até do país – o que exige o esforço e a cooperação da Polícia Federal e de autoridades de outros Estados. Dois integrantes do alto escalão do PCC estão no exterior e ainda não foram presos: de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, Fabiano Alves de Souza, o Paca, gerencia o encaminhamento da droga; e de Orlando, nos Estados Unidos, Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, administra a comissão cobrada de traficantes.

Os promotores paulistas apontam que os negócios ilegais do PCC rendem 120 milhões de reais por ano. “Hoje, a organização é muito mais empresarial. Essa dinâmica explica as mudanças no nomes dos réus. Quando alguém é preso, outro vem e assume a sua função. Se continuarmos trabalhando assim, esse substituto amanhã será denunciado e preso também”, afirma o promotor Lafaiete Ramos Pires.Infelizmente, a constatação das investigações é que os tentáculos do PCC continuam crescendo dentro e fora dos presídios. Que o combate sem descanso à facção criminosa seja imperativo para as forças de segurança pública.

Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, (Foto: Divulgação)

Apontado pela polícia como o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, comanda as ações da facção de dentro da penitenciária de Presidente Venceslau (SP). Para despistar os investigadores, Marcola passou a ser chamado pelos comparsas com um novo apelido: Russo. A nova investigação do Deic descobriu a nova alcunha quando interceptou uma conversa telefônica entre dois integrantes do PCC: eles comentavam que Russo havia sido transferido para o RDD – na mesma época, Marcola foi isolado na cadeia. Segundo o delegado Ruy Fontes, do Deic, Marcola continua sendo o chefe da facção, mesmo atrás das grades. 

"PACA" (Foto: Divulgação)

É o único integrante da cúpula do PCC, chamada de Sintonia Fina Geral, que está em liberdade. Os outros três, Marcola, Gegê do Mangue e Birosca, estão encarcerados em Presidente Venceslau, onde o próprio Paca também cumpriu pena por onze anos e quatro meses – nesse período, ficou algumas temporadas isolado no RDD por mau comportamento. Em liberdade, seguiu para Pedro Juan Caballero, no Paraguai, de onde gerencia a compra da cocaína em países produtores, como Bolívia e Colômbia, e envia carregamentos para o Brasil. Um novo mandado de prisão foi expedido contra ele e a Interpol foi acionada. 

Oriundo da segunda geração do PCC, considerada pela polícia mais violenta, Gegê do Mangue é apontado como o possível sucessor de Marcola. Ele subiu na hierarquia da facção depois que mandou matar o juiz-corregedor de Presidente Prudente (SP), Antônio Machado, assassinado em 2003. Gegê do Mangue foi flagrado pela polícia levando um bilhete para Marcola, no qual dizia que o atentado havia dado certo. Em documentos do Ministério Público obtidos pelo jornal O Estado de São Paulo, ele é citado como um dos líderes do PCC que negociou a paz entre três facções cariocas – é atribuída a ele a frase “o crime fortalece o crime”, dita na reunião entre os líderes criminosos.

Birosca é apontado como o chefe financeiro da organização. Considerado o cabeça do tráfico em Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo, foi preso em 2001 acusado por célebres assaltos a bancos. Birosca também aparece em provas colhidas pelo MP procurando contato com o então vereador de Diadema Manoel Eduardo Marinho (PT) para que este testemunhasse a favor dele na Justiça. Por meio da chamada “Sintonia das Gravatas”, o departamento jurídico da facção, o PCC tentou se infiltrar e influenciar decisões do Judiciário, segundo o Ministério Público. 

Padaria

O setor monitora três processos do tráfico de drogas: o recebimento de carga do exterior, a armazenagem em depósitos e o encaminhamento para os pontos de venda, mais conhecidos como “biqueiras”. Presos no último sábado, os quatro administradores são: Glauce Jorge Gemaque O´Hara, o Eduardo; Antônio Iranildo Gomes de Souza, o Moringa; Mohamed Dib Issa, o Lucas; e Fabiano Guedes de Medeiros, o Gordão. Com este último, foram apreendidos trinta quilos de cocaína pertencentes a Marcola – os pacotes estavam etiquetados com o apelido Russo –, uma submetralhadora, um fuzil e quatro pistolas. Com cada um deles, foram recolhidos montantes de dinheiro vivo.

As investigações do Deic contra o PCC avançaram após a prisão de dois gerentes dos pontos de venda de droga da facção na Região Metropolitana de São Paulo. Renato dos Santos Gomes, o Casca, e Anselmo Gonçalves Moreira, o Bô, foram os primeiros a ser detidos em fevereiro. A partir deles, a polícia chegou aos outros 38. Eles foram detidos com cargas de cocaína e documentos de contabilidade do PCC. A polícia montou um organograma operacional da facção. Nele, aparecem 51 pontos de venda controlados pela facção, chamadas de “FMs”.

Cúpula da Administração Financeira

São quatro os chefes do setor financeiro: Amarildo Ribeiro da Silva, o Julio, e Marivaldo Maia Souza, o Tio, ambos presos pelo Deic no último sábado; Sono e Madruga, que continuam foragidos e só foram identificados pelo apelido. O setor financeiro é o responsável por lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Tio, por exemplo, é dono de uma concessionária de carros. Julio foi preso com cinco automóveis de luxo, entre eles um Porshe Cayenne e uma Land Rover.

O setor cuida do transporte da droga dos depósitos aos pontos de venda, ou seja, da “Padaria” às “FMs”. Fernando Rasquinho, o Ousadia, é o principal chefe desse setor. É ele quem recruta as mulas – pessoas que transportam em mochilas e malas a droga para as biqueiras – e gerencia processos de pesagem e empacotamento. Também foram presos Reinaldo Moreira dos Santos, Douglas Conceição Carlos, Mayconi Roger Rasquinho, Matheus Pacheco de Abreu e Mauro Amauri Rodrigues – todos subordinados a Fernando Rasquinho.

Os traficantes associados ao PCC são obrigados a pagar uma comissão de 600 reais por mês para custear a estrutura da facção e sustentar os familiares dos presos. Essa mensalidade, denominada cebola, era arrecadada por Thiago Nascimento de Freitas Cunha, o Boy, preso no último sábado, e Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, que está foragido em Orlando, nos Estados Unidos. A Interpol já foi acionada. A polícia ainda investiga o objetivo de ele ter viajado para os Estados Unidos – uma das hipóteses investigadas é a associação com carteis mexicanos.

Menos graduadas na hierarquia da organização, as “mulas” são as pessoas usadas pela facção para transportar a droga em mochilas, malas e roupas. Todas as quinze “mulas” presas pelo Deic são mulheres, entre elas Daiane Santos da Silva, a líder do grupo, e Soraia Aparecido Coelho (foto). Segundo a polícia, a escolha pelo gênero feminino ocorre porque elas são consideradas menos suspeitas do que os homens. A Polícia Civil divulgou imagens de mulas sendo flagradas andando de ônibus e metrô pela cidade com mochilas carregadas de droga.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.