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Bernal diz: Tenho provas desse golpe onde um assessor detalhou toda a armação que estava sendo feita

Bernal fala em golpe e dispara contra Puccinelli, PMDB e seu sucessor Gilmar Olarte: ‘É um ingrato!’

(Foto: Ademir Almeida)

Foram pouco mais de 14 meses de mandato até a madrugada do dia 13 de março de 2014, quando 23, dos 29 vereadores de Campo Grande, decidiram pela primeira vez, cassar o seu administrador. Alcides Bernal (PP), eleito em outubro de 2012 com 270.927 votos, era tirado da frente de uma das maiores cidades da região Centro-Oeste, sob acusações de irregularidades em contratos emergenciais.

O site Dourados News  procurou o advogado, radialista e no momento, ex-prefeito, para uma entrevista, onde falou sobre o que teria causado a sua saída do Executivo, o futuro na política e as acusações sofridas, que segundo ele, foram armadas.

“Tenho provas desse golpe, inclusive gravadas em vídeo, onde um assessor detalhou toda a armação que estava sendo feita, com a conivência de pessoas do judiciário e políticos influentes do Estado”, conta.

Ocupando cargos políticos há 10 anos, quando foi eleito vereador na capital, passando pela Assembleia Legislativa entre 2010 e 2012, até se tornar prefeito de Campo Grande, batendo o candidato do PMDB, Edson Giroto no 2º turno, Bernal também afirmou que acionará a Justiça por supostas ofensas feitas pelo governador André Puccinelli (PMDB) em recente visita a Dourados.

Ele também mandou um recado para o atual prefeito e companheiro de chapa no pleito passado, Gilmar Olarte. “É um homem ingrato, que não honrou a oportunidade que lhe foi dada, muito menos a confiança da população campo-grandense”.

Dourados News - Faça uma avaliação do seu tempo de mandato.

Alcides Bernal - Ao iniciarmos nosso mandato nos deparamos com problemas gravíssimos. Diversas irregularidades foram encontradas, como a prestação de serviços com contratos vencidos e pagamentos de obras não finalizadas, mas o que chamou a atenção foi na área da saúde. Então, como primeira medida, determinamos que todas as secretarias fizessem uma avaliação minuciosa de sua situação financeira e administrativa e propusessem soluções eficientes e rápidas para os problemas. Nossa administração avançou consideravelmente, especialmente na saúde, implementamos mudanças e programas para melhorar a vida das pessoas. Em pouco mais de um ano reduzimos o preço da passagem de ônibus em quase R$ 0,30, recapeamos grandes avenidas da cidade, fizemos economia de mais de R$ 400 milhões nos cofres públicos para serem revertidos em obras, realizamos programas especiais na área da saúde que ajudaram a reduzir as filas e ofereceram melhor atendimento às pessoas, como o ‘fila zero’, com mutirões de especialidades médicas, o consulta única, que atendia as mulheres, a unidade móvel que resolveu o problema da superlotação das Unidades de Pronto Atendimento e passamos a abrir as unidades de saúde no período da noite. Também melhoramos várias áreas da administração, como a guarda municipal que recebeu um aumento de 18% no salário, novo fardamento e novas viaturas, além de cursos, treinamentos e mais dignidade para exercerem seu trabalho. Na educação as maiores conquistas foram os salários dos professores, que chegará a 100% do piso nacional, para 20 horas e a transferência dos Ceinfs (Centros de Educação Infantis) para a Educação. Estávamos colocando a cidade nos eixos, melhorando os serviços, economizando recursos e moralizando os contratos, evitando desperdício de dinheiro público e combatendo a corrupção.

DN – O que, em sua opinião, foi fator determinante para o início deste processo que terminou com a sua cassação?

AB - Ao iniciarmos nosso mandato rompemos com as velhas práticas políticas, especialmente aquelas baseadas no “toma lá, da cá”, dessa forma mexemos com interesses de grupos que estavam acostumados com as benesses do município e que não se conformavam com a derrota nas eleições de 2012. Esse foi o fator determinante, o não conformismo com a derrota e com o fim das regalias.

DN – Você acredita que houve um ‘golpe’ contra a sua administração, por quê?

AB - Tenho provas desse golpe, inclusive gravadas em vídeo, onde um assessor de Gilmar Olarte detalhou toda a armação que estava sendo feita, com a conivência de pessoas do judiciário e políticos influentes do Estado. Também é prova do golpe a declaração de voto de alguns vereadores, que afirmaram que votariam pela cassação pela quebra de compromissos políticos, assim como a nomeação do presidente da comissão que cassou nosso mandato para a Secretaria de Desenvolvimento no dia seguinte à sessão. Todas essas provas estão sendo levadas às autoridades para que se faça Justiça e a democracia seja restabelecida em nossa cidade.

DN - E em relação as denúncias contra a sua administração, o que tem a dizer?

AB – São todas falsas, sem comprovação, inclusive a justiça nos inocentou, anulando a ação baseada no mesmo relatório que cassou nosso mandato. Para as pessoas entenderem, vou relatar a verdade sobre os três itens citados no relatório. Merenda escolar: no final de 2011 venceu o contrato com as empresas que forneciam merenda e mesmo assim, em 2012 continuaram fornecendo. Quando assumimos descobrimos essa irregularidade e por isso tivemos que contratar em licitação emergencial novas empresas: APS, Salute, T&C e Nutrir. Nessa contratação economizamos mais de R$ 2,4 milhões.

Serviço de limpeza: no final de 2012 fizeram licitação para contratar empresa de limpeza dos postos de saúde. O valor subiu de R$ 7 milhões para R$ 11,8 milhões, quem homologou essa licitação foi o então vice-prefeito Edil Albuquerque, o mesmo que presidiu a comissão que cassou nosso mandato e que agora virou secretário de desenvolvimento. Consideramos o aumento abusivo e por isso suspendemos a licitação e fizemos a contratação emergencial. Nessa contratação economizamos R$ 2 milhões.

Compra de gás: a administração anterior comprava gás por R$ 52,80. Realizamos licitação para nova compra com valor menor. Algumas empresas entraram com recurso contra a vencedora. Para não desabastecer as escolas e Ceinfs, realizamos compra emergencial, pagando R$ 38. Após o julgamento do recurso, o valor diminuiu para R$ 31. Nessa compra economizamos R$ 21,80 por botijão. E mesmo diante da economia feita, os vereadores cassaram o nosso mandato. Reafirmamos que em nossa administração nenhuma irregularidade ou ilegalidade foi cometida. Todos os questionamentos da Câmara foram respondidos e todos os documentos solicitados foram apresentados. Esse é um julgamento político.

DN – Existe um vídeo circulando nas redes sociais que revela uma suposta armação para lhe tirar o poder. O senhor acredita na veracidade dessas imagens?

AB - Temos um laudo pericial que comprova que o vídeo é verdadeiro

DN – Você foi traído nesse episódio?

AB - Houveram várias traições, iniciando pelo meu vice, que se aliou aos políticos do PMDB para derrubar nosso mandato. Também tivemos decepções com pessoas muito próximas a nós e vereadores que ganharam espaço em nossa administração, mas cuja ganância falou mais alto e votaram pela nossa cassação em troca de cargos e nomeações.

DN – O fato do PMDB ter ‘perdido’ a prefeitura de Campo Grande após 20 anos foi predominante para todo o processo?

AB - Com certeza, desde o final da campanha eleitoral recebíamos a informação de que ganharíamos, mas não levaríamos. O fato é que todo esse golpe é capitaneado pelas principais cabeças do PMDB que não se conformam em perder o poder absoluto que acreditavam ter.

DN - Recentemente em Dourados, o governador afirmou que o campo-grandense elegeu uma pessoa despreparada e que o senhor teria cometido muitos atos ilegais na capital, por que ele fez essa afirmação?

AB - Estou respondendo a essa leviandade por meio da Justiça, da qual espero a isenção necessária. É um absurdo um homem público querer justificar um golpe atacando a honra de outra pessoa, ele terá que responder judicialmente por isso.

DN - Como tem sido a sua vida após a cassação? Detalhe ela por favor.

AB - Continuamos trabalhando e planejamento as próximas ações administrativas.

DN – E o processo de tentativa de retorno à prefeitura?

AB - Ingressamos com ações na Justiça e agora aguardamos o julgamento. Esperamos que ela seja célere nas suas obrigações, para que Campo Grande não sofra mais com esse golpe.

DN - O senhor acredita que a Justiça poderá lhe devolver o mandato e os direitos políticos?

AB - Sim, estamos muito confiantes, pois estamos do lado certo, do lado da verdade.

DN - E em relação ao seu vice, Gilmar Olarte, como você o classifica?

AB - É um homem ingrato, que não honrou a oportunidade que lhe foi dada, muito menos a confiança da população campo-grandense.

DN – Houve desapontamento de sua parte com ele?

AB - Óbvio que sim, mas entrego os seus atos nas mãos de Deus, é para ele que terá que responder.

DN - E os vereadores que foram favoráveis a cassação, o que tem a dizer?

AB - Que eles pensem, que eles busquem a sua consciência e respondam a pergunta: é isso o que a população esperava de mim? Seu dever constitucional é o de fiscalizar, é o de ajudar o município e não o de promover politicagem, de legislar em causa própria.

DN - E o seu partido, o PP? O comando continua com o senhor?

AB - O comando do PP é nosso, com o aval da Nacional.

DN - O que as lideranças nacionais do PP têm feito para lhe ajudar?

AB - Estamos recebendo todo o apoio do PP nacional, que tem certeza da nossa inocência, tanto jurídico, quanto político, as principais lideranças do nosso partido tem nos auxiliado.

DN - Independente de retomar o poder, o senhor pretende participar do processo sucessório estadual, apoiando algum candidato?

AB - Vou esperar o quadro se definir para declarar meu apoio, mas uma coisa posso afirmar: PMDB não!

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