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Com condenação de Lula, dólar cai 1,4%, a R$ 3,208, menor valor desde maio

É a quarta baixa seguida e o menor valor de fechamento do dólar desde 17 de maio.

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A condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e seis meses de prisão por causa do tríplex no Guarujá levou o dólar a ampliar sua queda e a Bolsa a recuperar o fôlego no pregão desta quarta-feira. Em sua quarta desvalorização seguida frente ao real, a divisa americana recuou 1,41%, encerrando cotada a R$ 3,208 para venda. É a menor cotação de fechamento desde os R$ 3,134 de 17 de maio, quando, após o fechamento do mercado, o site do GLOBO revelou as denúncias dos executivos da JBS contra Michel Temer. Na mínima, a moeda chegou a valer R$ 3,206. O risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap, espécie de seguro contra calote da dívida soberana) recuou dos 235 pontos para 228 pontos. No mercado acionário, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou alta de 1,57% aos 64.835 pontos. É também o maior patamar desde 17 de maio, quando fechou em 67.540 pontos.

Os ativos já começaram o dia reagiando positivamente à aprovação da reforma trabalhista no Senado, por ampla margem de votos, e a comentários da presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) que sugeriram que o processo de elevação dos juros no país será mais lento, explicou Pablo Spyer, da Mirae Asset. No início da tarde, porém, o dólar operava próximo a R$ 3,23 e a Bolsa apagava os ganhos. Mas às 14h, quando foi publicada a notícia sobre a condenação de Lula, os ativos reagiram rapidamente.

Segundo observadores do mercado, a notícia da condenação do ex-presidente animou os investidores porque reduz a possibilidade de vitória de um candidato de plataforma econômica considerada desenvolvimentista nas eleições presidenciais de 2018.

— De uma maneira geral, os ativos reagem à a visão de que o risco-país diminui com essa notícia, muito em função do entendimento de que essa linha, mais à esquerda, de uma política econômica desenvolvimentista, que defende um Estado maior, perderia força caso Lula não possa se candidatar. Isso abriria espaço para um candidato de postura liberal — explicou Rogério Freitas, sócio na Teórica Investimentos. — Logo, os investidores reagem às implicações que essa notícia poderá ter nas políticas fiscal e monetária futuras.

Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, explicou que os investidores se animaram com a notícia porque uma vitória de Lula nas próximas eleições representaria um risco para a aprovação das reformas.

“Uma vez que uma vitória de Lula (em 2018) acabaria com qualquer esperança sobre as necessárias reformas fiscal e econômica, isso seria negativo. Assim, a sentença de hoje provavelmente dará um empurrão nos mercados brasileiros. A expectativa é de que o real se fortaleça e que os juros dos títulos de dívida de longo prazo em moeda local caiam nas próximas 24 horas”, disse o economista em nota enviada a clientes na tarde desta quarta-feira.

Os investidores não têm do que reclamar do desempenho do mercado durante o governo Lula. De 2003 a 2011, o principal índice da Bolsa brasileira acumulou alta de 515%, enquanto o risco-país recuou de 2.152 pontos para 111 pontos. Mas Roberto Indech, analista-chefe da Rico, ponderou que o momento agora é outro.

— São momentos bastante diferentes. Depois das revelações da Lava-Jato, que começou em 2014, a interpretação do investidor, sobretudo do estrangeiro, é que ele foi um presidente que fez um aparelhamento do Estado — observou. — O foco do mercado agora é a manutenção da equipe econômica e para que se promova o ajuste das contas públicas.

IMPACTO NOS JUROS LONGOS

— A interpretação é de que a condenação afasta o risco de um novo governo populista. Havia entre os agentes do mercado a percepção de que, como candidato, Lula adotaria uma postura de oposição. Ele dificilmente seria favorável a adoção de ajustes fiscais ou de uma reforma da Previdência — afirmou Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos.

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De acordo com a analista, o comportamento dos juros futuros longos comprova essa análise. O DI com vencimento em janeiro de 2021 perde 20 pontos nesta quarta-feira, recuando de 9,96% para 9,76% ao ano. É o maior recuo diário desde maio desse contrato.

— Esses juros longos eram os únicos que estavam com dificuldade para cair nas últimas semanas porque, justamente, ainda representavam a incerteza com a perspectiva para as reformas nos próximos ano. Hoje, a condenação do Lula diminui essas incertezas — explicou a especialista.

O DI para janeiro de 2018 caiu de 8,78% para 8,72%, enquanto o contrato para janeiro de 2019 recuou de 8,73% para 8,64%.

APROVAÇÃO DE REFORMA REDUZ INCERTEZA, DIZ ANALISTA

Após uma sessão tumultuada, o plenário do Senado Federal aprovou ontem, por 50 votos favoráveis e 26 contrários, o texto base da reforma trabalhista. Às 22h19, o plenário terminou também a votação de todos os destaques e emendas que tentavam modificar o texto — todos foram rejeitados. A reforma trabalhista é apoiada pelos agentes do mercado financeiro e era considerada pelos investidores como projeto que definiria se o governo Temer tem alguma força para promover sua agenda.

“Placar mostra que o Congresso está inclinado a aprovar as reformas necessárias. Mostra também que a base de Temer continua expressiva. A (reforma) da Previdência, no entanto, é muito mais complicada”, disse Hersz Ferman, analista da corretora Elite.

- O placar surpreendeu, mas o resultado já era esperado. Tem uma ala mais animada de investidores dizendo que a reforma da Previdência vai passar agora. Mas eu já acho que é o contrário. O cenário pólítico é muito incerto - disse Paulo Petrassi, da Leme Investimentos.

No exterior, os pregões sobem após a presidente do Fed, Janet Yellen, sinalizar que não tem pressa na continuação do processo de aperto monetário nos EUA. Em discurso preparado para testemunho no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Janet Yellen ponderou que uma inflação muito baixa pode dificultar a elevação de juros, em meio a crescimento moderado.

Em Wall Street, o índice Dow Jones teve alta de 0,57%, enquanto o S&P 500 subiu 0,73%. A Nasdaq avançou 1,1%. Na Europa, o índice de referência do continente Euro Stoxx 50 subiu 1,46%, enquanto a Bolsa de Londres subiu 1,19%. Paris teve alta de 1,59%, e Frankfurt, de 1,52%.

PETROBRAS SALTA

Na B3 (antiga Bovespa), apenas 6 das 59 ações do Ibovespa fecharam em queda, sendo que quase todas são ações de exportadoras que perdem com a queda do dólar.

As ações da Petrobras saltaram 3,9% (ON, a R$ 13,58) e 4,95% (PN, por R$ 12,94), reagindo à animação dos investidores, à valorização do petróleo no mercado internacional e a notícias corporativas.

Hoje pela manhã, a companhia informou que obteve vitória em decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com relação ao processo que questionava as práticas adotadas pela companhia para proteger suas exportações futuras de variações cambiais, a chamada contabilidade de hedge, que seriam contrárias normas vigentes. O colegiado da CVM, em reunião realizada ontem, acatou o recurso interposto pela Petrobras, em relação ao ao processo. A decisão do Colegiado do órgão regulador do mercado reverte a determinação da área técnica da CVM que determinava a Petrobras refazer e publicar os balanços financeiros de 2013, 2014, 2015 e 2016, em função de suposta utilização indevida da prática de contabilidade de hedge.

As ações dos bancos também subiram, com o Banco do Brasil avançando 2,85%, as do Bradesco subindo 2,65%, e o Itaú, 1,08%.

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