Publicado em 14/05/2015 às 13:38, Atualizado em 26/10/2016 às 12:01

Sindicato dos ferroviários denuncia ‘fim do trem’ em Mato Grosso do Sul

Fagner de Olindo, O Estado Online

Mais de 100 trabalhadores, entre demitidos e transferidos para outras malhas ferroviárias, perderam seus postos na ferrovia que corta Mato Grosso do Sul.  De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, as demissões por parte da empresa Rumo ALL aconteceram maciçamente na terça-feira (12) e a circulação do último trem Corumbá-Bauru aconteceu ontem (13).

Para o diretor do sindicato, Evanildo da Silva, “a fusão Rumo-ALL mostrou que vem para desmontar a ferrovia, principalmente no Mato Grosso do Sul”. De acordo com ele, várias demissões tiveram início na semana passada, com seis trabalhadores das equipes de máquina Plasser (que faz manutenção das linhas ferroviárias). “Na sexta-feira (8), foram 26 demissões em Campo Grande e, na segunda (11), mais 36 demissões no Mato Grosso do Sul, além de 24 transferências de trabalhadores para outros Estados”, contabiliza Silva.

Em menos de uma semana, quase 100 ferroviários do Mato Grosso do Sul perderam seus postos (aproximadamente 20% do quadro funcional). Cerca de 530 funcionários trabalhavam na ferrovia que corta o Estado.  “A situação é caótica. Na segunda foi cancelado todo o transporte de combustível para o Mato Grosso do Sul, o que poderá levar rapidamente a uma crise de abastecimento. Além disso, já há acúmulo de carretas no local onde o combustível é descarregado”.

Segundo Silva, houve promessa de investimento na malha Oeste, mas até o momento nada foi feito. “O governo tem que tomar uma atitude enérgica contra essas concessionárias. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) está servindo aos interesses das empresas, e não aos dos trabalhadores. Se continuar assim, em pouco tempo acontecerá no Mato Grosso o mesmo que ocorreu no Nordeste, com 80% da malha ferrovia abandonada pelas concessionárias”.

Procurada pela reportagem, a Rumo ALL informa que houve a necessidade de um ajuste nas operações da métrica norte, envolvendo as áreas de mecânica e tração. No entanto, a companhia ressalta que ofereceu aos funcionários um pacote demissional, além das verbas rescisórias de lei. Por fim, a empresa esclarece que suas operações dependem da demanda de mercado.

Empresário afirma que meio de escoamento do etanol vai morrer

Um empresário do setor logístico que possui um terminal de transbordo de etanol em Indubrasil, procurou a equipe de O Estado para denunciar a paralisação do fluxo de trem no trecho que liga Campo Grande a Três Lagoas. Segundo ele, que começou a operar o terminal em 2012, “a fusão entre ALL e Rumo está fazendo a 1ª vítima, o Estado de Mato Grosso do Sul”.

Atualmente, conforme o empresário, “o trem transporta cerca de um milhão de litros de gasolina, mas isso aí vai acabar. Vai vim tudo rodoviário (transporte), vai ter mais 900 carretas entupindo as estradas, e o preço da gasolina e do diesel provavelmente deve sofrer alteração por conta de frete. O grande meio de escoamento da produção de etanol do Estado vai morrer”, prevê.

Líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT) afirma que não tem informações nesse sentido. “Vejo a fusão de maneira positiva. Ainda este mês, o governo vai anunciar as obras de logística prioritárias, incluindo a concessão de rodovias”. No início do mês, Delcídio se reuniu com o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) e, entre outros assuntos, discutiu a liberação de investimentos para o Estado.

“Falamos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do programa de concessões e das PPPs (Parcerias Público-Privadas) para as rodovias, portos, aeroportos e ferrovias. O governo deve anunciar um pacote até o final de maio especificamente sobre o assunto, e estamos reivindicando a inclusão de projetos de interesse de Mato Grosso do Sul”.