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Obra milionária tira 3ª faixa e amplia insegurança na Rodovia da Morte

A 15 dias de ser privatizada, a BR-163, que corta Mato Grosso do Sul de Mundo Novo a Sonora, segue com a manutenção custeada pelo poder público. Os sete contratos chegam a R$ 359 milhões, mas tanto dinheiro não impede que as obras deixem para trás uma reclamação: o fim das terceiras faixas.

“Você fica sem opção de ultrapassagem. Estão tirando a terceira faixa. Você anda mais fora da pista do que na rodovia”, afirma Osvaldo Maidana da Rocha, 40 anos. Dono de oficina mecânica, ele viaja uma vez por semana de Campo Grande a Camapuã.

Numa via ruidosa, em que caminhões com até 25 metros de extensão escoam a produção do Estado, a terceira faixa é a oportunidade para o trânsito fluir na Rodovia da Morte. Nesses pontos de trégua em meio à batalha entre os veículos de grande porte e os carros, os caminhões ocupam a faixa da direita, abrindo caminho para os carros.

“Nessa melhoria que fizeram, tiraram a terceira faixa. São vários pontos de Campo Grande para cá. Pintaram uma linha reta, isso para mim é acostamento, não terceira faixa”, reclama o vendedor Cícero Brito, 63. Morador de Jaraguari, há mais de uma década ele trabalha a poucos metros da rodovia.

Cícero conta que a frente de trabalho, já a caminho de Bandeirantes, “pulou” o perímetro urbano de Jaraguari. Desta forma, o acesso segue inseguro. É preciso cruzar a via. Nas extremidades da área urbana da rodovia, foram colocados redutores de velocidade, mas as rotatórias continuam somente nos sonhos dos moradores de Jaraguari, a 44 quilômetros de Campo Grande.

Nos 140 quilômetros entre a Capital e São Gabriel do Oeste, percorrido pela reportagem na segunda-feira, a sinalização vertical traz diversos apelos para o condutor, como “não dar carona para a morte” e não exceder na velocidade. Mas, são placas ao vento, a rodovia é palco de um festival de imprudências.

Próximo a Jaraguari, asfalto ficou sem sinalização demarcando as faixas de rolamento. (Foto: Cleber Géllio)

A comerciante Elair Balzan, 53 anos, que uma vez por semana viaja de São Gabriel a Campo Grande conta que não se cansa de ver o “cúmulo do absurdo”. O último foi num ponto em que o trânsito foi interditado para a obra de recapeamento da 163. “Todo mundo parado por 30, 40 minutos na fila. E na hora que abriu, um caminhão saiu ultrapassando todos pela direita”.

Ela se mostra cética quanto ao benefício das intervenções para manutenção da via. “Esse conserto é uma verdadeira mina de ganhar dinheiro, nunca param de consertar. Já dava para ter feito quatro faixas e ainda sobraria dinheiro”, afirma.Entre Bandeirante e São Gabriel, asfalto irregular e buracos trazem ainda mais perigo para quem passa pela BR-163.

O fator motorista – Além das dificuldades de infraestrutura, o condutor responde por boa parcela dos perigos da Rodovia da Morte. A faixa contínua, que proíbe a ultrapassagem, não intimida os motoristas de saírem na contramão sem ter visibilidade.

Um caminhoneiro, que seguia no sentido Campo Grande, aproveitou que do outro lado havia duas faixas para forçar a ultrapassagem. Ou seja, “jogou” todos os veículos para a terceira faixa e ultrapassou uma fila de caminhões e carros.

Viajando com a esposa e uma estradeira mirim, a filha de onze meses, o caminhoneiro Leandro Souza, 28 anos, culpa a imprudência por tantos acidentes. “Não tem serra, é um retão só. A imprudência é do motorista”, avalia. A família vai de Santa Catarina a Rondônia. Na vida de rodar pelo país, Leandro passa ao menos três vezes por mês pela BR-163, em Mato Grosso do Sul.

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