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Ambos mortos por covid-19, pai foi infectado no hospital e filho no enterro

Bento Pereira da Silva, de 75 anos e o filho, José Carlos da Silva, 56, nem ao menos tiveram contato um com o outro

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Bento e José Carlos, lado a lado. (Foto: Arquivo da Família) 

Onze dias separam a morte do pai e do filho por covid-19. Bento Pereira da Silva, de 75 anos e o filho, José Carlos da Silva, 56, nem ao menos tiveram contato um com o outro, mas conforme os registros oficiais, acabaram sendo infectados, e por terem doenças preexistentes, não resistiram.

Quem conta a história de dor e perda é a filha e irmã, Martha Pereira, de 51, que é funcionária pública da Prefeitura de Dourados, cidade a 260 Km de Campo Grande, onde as mortes aconteceram. Para ela, houve descuido em ambos os casos.

O primeiro a adoecer foi Bento, que desenvolveu enfisema pulmonar depois dos anos em fumou. Mesmo longe do tabaco, as sequelas ficaram e ele acabou sendo internado com problemas no pulmão, no Hospital Evangélico de Dourados, em 2 de junho.

Passaram-se alguns dias e ainda internado, ele recebeu como companheiro de enfermaria um senhor também com problemas pulmonares. Ninguém sabia, nem mesmo o hospital, mas esse colega de internação estava com covid-19. “Eu tive medo, mas me falaram (médicos) que esse senhor tinha o mesmo problema que meu pai, e só”.

No entanto, dois dias depois, esse paciente que foi internado no mesmo quarto que Bento piorou e precisou ser removido para UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde acabou morrendo. Pouco depois, soube-se que o diagnóstico dele havia dado positivo para o novo coronavírus. “A gente ficou sabendo depois, que esse paciente testou positivo”, relatou Martha. 

Mais alguns dias passaram e o pai dela começou a ter sintomas além dos causados pelo enfisema. Bento teve febre e ao fazer tomografia do pulmão, viram que estava comprometido, já com sinais de covid-19. “Ele passou mal e então foi entubado e em coma. Ficou na UTI esse tempo todo”, contou, sem lembrar a data correta dos acontecimentos. A morte, no entanto, foi em 25 de junho. 

Martha lembra que precisou insistir muito com os profissionais do Hospital Evangélico para que fizessem em Bento o teste de covid. Isso, porque, conforme ela relata, “não queriam se comprometer, porque sabiam que se meu pai estivesse com a doença, é porque ele pegou no hospital, do paciente que ficou no quarto com ele”, revela.

Para ela, caberia processo judicial, mas “é mais sofrimento, cansaço e não queremos isso, não agora”, afirma. O diagnóstico positivo para o novo coronavírus, segundo registros oficiais, foi feito em 16 de junho, nove dias antes de Bento falecer.

José Carlos – A filha e irmã conta ainda que José Carlos fazia tratamento contra alcoolismo e quando o pai deles morreu, ele estava internado na clínica de recuperação e a única vez que saiu de lá, foi para acompanhar, de longe, o enterro de Bento.

Até mesmo as visitas à clínica ficaram limitadas, diante da onda do novo coronavírus em Dourados. “Fazia bem mais de seis meses que ele estava em tratamento lá, estava internado desde agosto do ano passado e nem chegamos a contar pra ele que o pai tinha pegado covid”, disse.

Martha lembra que José ficou sabendo da morte do pai no dia em que ela ocorreu e que a clínica só o liberou para ir ao sepultamento e voltar. Segundo ela, esse foi o único momento em que o irmão pode ter tido contato, de alguma forma, com o vírus, ao menos até onde ela sabe.

“Falei com minha irmã e combinamos que ele (José) tinha o direito de saber e vir se despedir do pai, então minha irmã foi na clínica e o buscou. Trouxe ele na porta do cemitério e estava só eu lá. Quando eu contei o que era, deu uma crise nele, ficou desesperado”, comentou.

Depois disso, José Carlos voltou para a internação na clínica de recuperação, mas já não foi mais o mesmo. Além de ter cirrose e também doença no pulmão, ele foi ficando entristecido e abatido, não acreditando que o pai havia falecido.

“Ele deixou de comer, não dormia de noite e foi ficando mais debilitado até que o levaram na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e voltaram pra clínica. Daí, eles nos avisaram, na sexta (3 de julho) que iam levá-lo na UPA de novo e como ele já chegou lá mal, já entubaram, até achar vaga em hospital”, detalhou.

José Carlos, segundo a irmã, chegou na UPA já com quadro de pneumonia agravada e fico na área vermelha até ser transferido, no domingo, pro Hospital da Vida. “E ele continuou do mesmo jeito, sem avanço, até que na segunda-feira, ele faleceu”. Foi na UPA, em 4 de julho, que o teste que resultou positivo para covid foi feito em José. 

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