Buscar

ENTREVISTA Nanda Costa: Suor, talento e coragem

Por que a atriz Nanda Costa arrebata corações aqui e acolá

O ano de 2013, ninguém duvida, é de Nanda Costa. No papel principal da última novela das 9 da Rede Globo, Salve Jorge, a atriz de 26 anos enfrentou sem medo o desafio de brilhar em meio a um elenco que contava com estrelas consagradas e tarimbadas, como Giovanna Antonelli e Letícia Spiller. Estreante como protagonista de um folhetim, mas já laureada por trabalhos no cinema, ela mostrou na TV a mesma determinação que a acompanha desde quando trocou Paraty (RJ), onde nasceu, por São Paulo, aos 14 anos

É evidente a sintonia que rolou entre você e o Bob Wolfenson. Como foi posar nua para as lentes dele?

Na noite anterior, estava superansiosa. Acordei várias vezes durante a madrugada. Eu me olhava no espelho, via como estava o corpo, imaginava as posições que iria fazer. Apesar da vontade, nunca tinha trabalhado com o Bob. Foi legal conhecê-lo já num trabalho de tanta importância, num momento tão especial. Tinha certeza de que o ensaio ficaria com muita qualidade. O olhar dele e o apoio da equipe me deram muita segurança. Posar nua não é nenhum bicho de sete cabeças. Foi uma experiência incrível.

O que aconteceu de mais curioso durante o ensaio? Houve um probleminha com a polícia cubana, certo?Pois é. Estávamos fotografando no Malecón [famosa orla de Havana], e o pessoal gritou: “Bota o short, fecha o casaco, rápido!” Era um policial que se aproximava. Ele me viu de relance. Saí do carro conversível e fui para a perua da produção. Começou um bafafá – o guarda querendo ver documentação, perguntando se estávamos fazendo fotos de nu, se a mulher era cubana… Ele começou a fazer um certo terror. Chegou a dizer: “Estas ruas têm câmeras, hein?!” Aí, quando a coisa me pareceu bastante séria, fui lá.

E aí?O policial ficou sem reação quando me viu. Depois, disse: “Pena que não posso tirar uma foto contigo, pois estou fardado”. Ele sabia que eu era a Morena de Salve Jorge. Em Cuba passa muita novela da Globo. Segundo o próprio, ele e outros oficiais já tinham assistido à novela, para decidir se liberavam ou não sua veiculação no país. Enfim, negociei de tirar uma foto com ele mais tarde no hotel, sem a farda. E acabou dando tudo certo.

Os cubanos se aglomeravam nos lugares aonde você ia. Isso lhe deu medo?Não. Eu estava tranquila. Tem até uma história engraçada, referente à foto da barbearia. Eu estava ali completamente nua e compenetrada. Daí um homem, um popular, quebrou uma proteção junto ao topo de uma escada a poucos metros da gente, se debruçou no vão e começou a gritar para mim: “Te quiero, mi amor… Te quiero…” Eu séria, concentrada e pelada, e o cara falando putaria lá de cima. [Risos.]

Você já tinha ficado nua em cena. No filme Febre do Rato (2011), sua personagem urina na frente de um poeta e se masturba lendo um panfleto. Pela arte vale tudo?Ator não pode ser careta, ter amarras e preconceitos. Procuro ser o mais generosa e aberta possível na hora de analisar um trabalho e atuar. Mas, claro, tem coisas que não faria. Essa questão é muito complexa. No caso de Febre do Rato, achei o roteiro muito interessante. Sabia que a personagem era questionadora, que seria um filme polêmico. Mas, uma vez que visto a roupa da personagem, não tenho problema algum em tirá-la.

Principalmente no começo de Salve Jorge, teve gente que a criticou. Como você segurou a onda e conseguiu manter-se focada no trabalho?Grande parte dessas críticas foi fruto de preconceito. Falavam: “Quem é essa atriz?”; “Que personagem ela fez?”; “Será que vai segurar a onda?” Para muita gente, eu era música nova. E há pessoas que não estão abertas para o novo. Claro que havia também aqueles que realmente não aprovavam o trabalho. E isso é bom. Assim se abre um canal para o debate, para a argumentação. Quando só falam bem, pronto: todo mundo já pula para o próximo assunto. Segurei a onda porque sou superexigente. Jamais me acomodo, sempre quero melhorar. Escutei muito os profissionais com quem trabalhava e a Gloria (Perez) segurou no meu braço e falou: “Vai, é isso que eu quero”. A novela também foi alvo de críticas. Disseram, por exemplo, que a trama tinha cenas inverossímeis e erros de continuidade. Concordemos num ponto: você bater num mulherão do tamanho da Claudia Raia, a Lívia Marini, seria difícil. Ou não? A Morena podia bater na Lívia, sim, porque ela tinha uma fúria… A Morena é o José Aldo [lutador brasileiro de MMA]: baixinha, mas é punk!

Sua família sempre apoiou você na carreira?Sim, muito. Hoje minha família são minha mãe, minha avó materna, minha irmã e meu irmão. Sempre tive muito apoio deles porque saí de casa cedo, aos 14 anos. Mesmo adolescente, já era muito responsável e estudiosa.

Você saiu de Paraty em busca de que exatamente?Sempre fui muito comunicativa e desde pequena falava que seria atriz. Nessa idade decidi trocar Paraty por São Paulo, onde havia boas escolas de teatro. Minha vida mudou radicalmente. Fui morar com uma tia, a Paula, por quem era louca. Mas, quando fazia cinco meses que morava na cidade, ela faleceu num acidente de carro. A gente estava indo passar em Paraty o Dia das Mães com a minha mãe. Fui com um primo no carro dele e minha tia foi sozinha no dela. Lembro que ela até brincou: “Vai me abandonar e ir com ele, é?” Ficamos todos muito mal.

E você continuou em São Paulo.Sim. A partir daí, falei: “Quero dar alegria à minha família e ser motivo de orgulho”. Agarrei o sonho de ser atriz com todas as minhas forças. Morei em vários lugares. Primeiro num pensionato de freiras, na região dos Jardins. Fiquei um ano lá, entre 2002 e 2003. Estudei na Escola de Atores do Wolf Maia, que me deu uma bolsa e depois uma chance na televisão, na novela Cobras e Lagartos. Acho que ele viu naquela menina um olhar de mulher, meio sofrido, talvez. Eu conto assim, rápido, mas até chegar à TV foi um longo caminho. Estudei teatro por cinco anos, fiz inúmeros workshops, estudei e trabalhei muito, inclusive em restaurante japonês.

Em algum momento da sua infância ou adolescência você passou dificuldade financeira?Quando conto a história da minha vida, as pessoas acham que passei fome. Isso nunca existiu. A dificuldade era estar distante de uma vida confortável em Paraty. Minha vida pode ter sido um pouco difícil em São Paulo, afinal estava longe da família, mas fui eu que decidi seguir esse caminho. Buscava realizar um sonho.

E agora, que você realizou seu sonho em alto estilo, conte qual é o lado ruim da fama.A fama é um pacote com ônus e bônus. Quero preservar minha intimidade, mas, independentemente disso, saem muitas inverdades na imprensa, as pessoas inventam. Isso é muito chato. Não gosto de deixar nas bancas a minha vida pessoal. Já o assédio do público considero incrível. Só não gosto quando é desrespeitoso. Estou lá no aeroporto de cabelo preso e óculos escuros e vem uma pessoa e me pede para soltar o cabelo e tirar os óculos para uma foto. Pô, e aí, se você diz que não, te chamam de antipática. “Ah, é o preço da fama, ninguém mandou ser famosa!” Não é por aí. Respeito é fundamental.

Quando o público vai vê-la atuando novamente?Não sei ao certo. Estou envolvida com três filmes: Língua Seca, que deve começar a ser rodado em janeiro de 2014 e estrear em novembro; Meu Tempo é Agora, em que farei a mulher do [cantor] Marcelo D2; e tem ainda o Love Film Festival, que vou terminar de filmar. E na TV, nada de concreto por enquanto.

Por falar em D2, qual sua opinião sobre a descriminalização da maconha?Cigarro é liberado e faz mal pra caramba. Sei lá, se proibissem, será que iam fumar mais? Acho que proibição é uma coisa… É difícil botar minha opinião, porque vou fazer um filme que fala sobre a legalização. Não sou contra a legalização.

Você já fumou maconha?[Risos.] Melhor não, né? Olha, sou mais careta do que parece. As pessoas acham que sou supermoderna, mas sou normal.

O que você faz quando não está trabalhando?Gosto de ficar em casa, descansando e ouvindo vinil. Tenho uma coleção com uns 500 discos. Gosto de ouvir Elis Regina, Djavan, Cartola, Adoniran Barbosa, Ella Fitzgerald, entre outros.

E literatura?Amo Guimarães Rosa; meu livro de cabeceira é Grande Sertão: Veredas.

Para finalizar, que recado você daria às suas colegas atrizes lindas e talentosas que ainda não aceitaram nosso convite para posar nua?Que é do caralho! Assim, para uma amiga, diria que é do caralho. Para uma atriz com quem não tivesse intimidade, falaria apenas “faça”.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.