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Banheira de R$ 28 mil, carro de R$ 210 mil e ameaça à promotora 'esticaram' prisão de PM

Ex-comandante da PM em MS teve prisão preventiva decretara por envolvimento com a máfia do cigarro

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Duplicadas [promissórias] emitidas por um assessor jurídico do TCE (Tribunal de Contas do Estado) investigado por corrupção, cheque que seria da venda de carro que nem sequer negociado tinha, títulos que somam R$ 800 mil, instalação de banheira em casa na importância de R$ 28 mil e ameaça a chefe do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em depoimento. Foram esses os motivos que transformaram a prisão temporária - válida por cinco dias com possibilidade de renovação por mais cinco dias - em prisão preventiva, contra o tenente-coronel da Polícia Militar Admilson Cristaldo Barbosa.

O oficial, que completara 44 anos de idade na semana passada está preso, em Campo Grande, desde o dia 16 deste mês de maio, por chefiar uma suposta quadrilha composta por 20 PMs de Mato Grosso do Sul, associados a organizações criminosas ligadas ao contrabando de cigarros vindos do Paraguai e distribuído em todo o território nacional. Ele e mais 20 militares foram capturados durante a Oiketicus, operação conduzida pelo Gaeco, braço forte do Ministério Público sul-mato-grossense.

O tenente-coronel ingressou com recurso de soltura logo depois de preso temporariamente. No entanto, o Tribunal de Justiça pediu informações ao MPE acerca da apelação. Daí, com novas considerações, o MPE convenceu a corte “manter a segregação cautelar do requerido tenente-coronel”, ou seja, decidiu preservá-lo encarcerado por período indeterminado. Saiba as razões.

Em depoimento, o oficial, que foi afastado desde a prisão do comando da PM, em Jardim, ao responder uma questão ao MPE, intimidou a promotora de Justiça, Cristiane Mourão, que comanda o Gaeco.

MP (Ministério Público) – Eu queria saber com qual dinheiro o senhor comprou a Cherokee (saiba mais sobre os valores desse carro, logo abaixo) e com qual dinheiro ela foi paga?

Interrogado (Admilson Cristaldo Barbosa) – Essa é uma boa pergunta, até porque eu estou na frente da Doutora, da Doutora aqui (Doutora Cristiane Mourão Santos), eu vi a entrevista dela na, na imprensa ontem/hoje, e eu estava esperando essa pergunta. Ela falando que o meu patrimônio não condiz com o que eu ganho. Então, Doutora, eu vou deixar bem claro para a Senhora que o meu patrimônio é todo no imposto de renda, desde que eu entrei na PM, a senhora não pode chegar de novo e falar isso mal da PM, eu me senti, tô até emocionado, graças a Deus a Sra. está aqui, porque, se eu encontrasse a sra. de outra maneira, Dra., ia estar ruim é pra mim, então eu tô aqui com várias pessoas, eu tô aqui para esclarecer (...), diz trecho do depoimento do tenente-coronel.

APREENSÕES

Na petição do MPE, produzida para convencer o TJ-MS a decretar a prisão preventiva do tenente-coronel, é citado que o militar em questão “possui um padrão de vida totalmente incompatível com seus rendimentos como policial militar, a exemplo de aquisição de motos de luxo, carros importados, roupas de grife, viagens internacionais etc., supostamente proporcionado pelo recebimento de quantias ilegais (corrupção sistemática)".

O Gaeco sustenta ainda no recurso que, por meio de quebra de sigilo fiscal do militar descobriu-se que “mesmo com decréscimo patrimonial e encontrar-se saturado com despesas”, o tenente-coronel conquistou bens com recursos supostamente ilegais.

O Gaeco descreveu na petição parte do patrimônio do militar, entre os quais a compra, em 2016, de um Jeeb Grand Cherokee no valor de R$ 210 mil.

Em 2015, o militar adquiriu uma motocicleta Harley Davidson que custou-lhe R$ 35 mil. Esse veículo, segue o Gaeco, foi vendido no ano seguinte, em 2016, por R$ 39 mil. “Ele tentava elevar artificialmente seus ganhos”, concluiu o Gaeco.

Em abril de 2016, o tenente-coronel fortaleceu ainda mais o patrimônio: comprou outra motocicleta Harley Davidson pela importância de R$ 67.250,00.

Ainda conforme a quebra do sigilo fiscal, o Gaeco descobriu que o oficial gastou R$ 25,7 mil em roupas compradas na Prado Brasil, umas das lojas mais sofisticadas do país.

O Gaeco revela, ainda que o oficial gastou “à vista” R$ 28 mil para instalar uma banheira em sua casa. A importância não seria paga de uma só vez ainda que o tenente-coronel gastasse todo o salário mensal que recebe, em torno de R$ 23 mil.

“O requerido apresentou uma evolução patrimonial estritamente incompatível com os seus rendimentos lícitos, o que reforça indícios de que essas aquisições foram realizadas através do dinheiro recebido ilicitamente do crime organizado especializada em contrabando de cigarro”, afirma o Gaeco.

Ao cumprir mandado de busca e apreensão na casa do militar, os investigadores do Gaeco apreenderam um cheque e três notas promissórias, todos com vencimentos em abril e maio de 2018 que, juntos superam R$ 800 mil.

“O requerido (Admilson) não apresentou justificativa plausível para a posse das cártulas e que com relação ao cheque afirmou que recebera pela venda de seu veículo, um Jeep Grand Cherokee, entretanto, foi encontrada a informação de que este veículo ainda não foi vendido, encontrando-se em uma revenda aqui em Campo Grande (Tomitão)", afirmou o Gaeco.

Ainda segundo o Gaeco, a promissória apreendida com o tenente-coronel tinha como emissor Denis Peixoto Ferrão Filho, que é “investigado pelo Gaeco e é réu pelo crime de lavagem de dinheiro justamente oriundo de corrupção”.

Dênis Ferrão é assessor jurídico do Tribunal de Contas de MS, corte que existe por uma só razão: investigar a aplicação dos recursos estaduais e municipais. O salário dele gira em torno de R$ 18 mil.

“O investigado (tenente-coronel) recebe grandes quantias em propina e as repassam a terceiros, recebendo em garantia títulos de crédito – constatação sinaliza a grande possibilidade de o requerido estar lavando dinheiro recebido com a prática do crime”, diz trecho do relatório do Gaeco.

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