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PF prende ex-ministro de governos petistas Paulo Bernardo e mais sete

Investigação começou após delação de Alexandre Romano, ex-vereador do PT. Operação investiga desvio de dinheiro de empréstimos consignados.

Em um desdobramento explosivo da operação Lava-Jato, foram presos o ex-ministro dos governos petistas, Paulo Bernardo, e outras sete pessoas. Trata-se da operação Custo Brasil, que investiga um esquema de desvio de dinheiro de empréstimos consignados para servidores federais.

O ponto de partida dessa nova operação foi a delação do ex-vereador do PT, Alexandre Romano. Foi ele quem intermediou a contratação da empresa de tecnologia que gerenciava os empréstimos.

O comboio da Polícia Federal que conduzia o ex-ministro Paulo Bernardo e outros detidos pela operação Custo Brasil chegou ao prédio da PF às 20:40 da noite de ontem (23). Antes, eles passaram pelo Instituto Médico Legal. Todos os presos durante a operação passaram a noite na carceragem da Polícia Federal.

O ex-ministro Paulo Bernardo estava em Brasília, no apartamento funcional da esposa dele, a senadora do PT, Gleisi Hoffmann. O local foi todo revistado. Os policiais também foram até o apartamento de Paulo Bernardo em Curitiba-PR. De lá, eles levaram documentos e também equipamentos eletrônicos. Eles vasculharam ainda a sede do PT em SP, onde recolheram muitos documentos.

Segundo os investigadores, o esquema de corrupção começou em 2010 e durou até agosto de 2015. "Nós identificamos, ao longo da operação, o envolvimento de servidores do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tanto de primeiro, segundo e terceiro escalão", declarou Rodrigo de Campos Costa, delegado da PF.

A operação é um desdobramento da Lava Jato. De acordo com a investigação, os desvios começaram quando o Ministério do Planejamento contratou uma empresa de informática, a Consist, para administrar o sistema de crédito consignado dos funcionários públicos.

Segundo investigadores, a Consist arrecadou R$ 140 milhões durante esses cinco anos de serviços. Desse valor, R$ 40 milhões teria sido para pagar o custo real da empresa, e os outros R$ 100 milhões teriam sido desviados para o esquema de propina, conforme afirma o superintendente adjunto da Receita Federal, Fabio Ejchel: "A fraude acabou chegando, durante esses cinco anos, a mais de R$ 100 milhões, distribuídos para esses agentes públicos, políticos e parceiros do esquema, de forma ilegítima".

Quem coordenou a distribuição desses R$ 100 milhões, ainda de acordo com as investigações, foi João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do PT: "Quem definia os percentuais a serem pagos, era o João Vaccari. Ele efetivamente era, não vou dizer a palavra final, mas era, pelo teor das colaborações, dos e-mails e das provas que nós analisamos, ele era a pessoa que definia os valores", disse o delegado Rodrigo de Campos.

Segundo as investigações, R$ 7 milhões foram destinados a Paulo Bernardo. O percentual de propina para ele começou com 9,5% enquanto ele era ministro do Planejamento no governo Lula. E continuou, mesmo depois que ele foi para o Ministério das Comunicações no governo Dilma, caindo para até 2,5%.

Os pagamentos passavam, segundo investigações, pelo escritório do advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba-PR, Ele teria pago contas de Paulo Bernardo: "Nós identificamos pagamentos de empregados deles dois, pagamento de loft, de garagem, de custas de honorários referente a ações na Justiça Eleitoral. O que nós identificamos era isso e, em uma das tabelas a gente identifica lá fundos Consist, que era o pagamento da Consist para o escritório de advocacia. E esse escritório de advocacia direcionava esse dinheiro ilícito para o ministro".

O advogado não foi preso, porque não foi encontrado. Ele participou de duas campanhas de Gleisi Hoffmann: ao Senado em 2010 e à Prefeitura de Curitiba, em 2008.

Andrey Borges de Mendonça, procurador da República, enfatiza a gravidade da ação dos corruptos: "R$100 milhões foram desviados de funcionários públicos e pensionistas endividados, que se privaram de medicamentos e de suas necessidades básicas para abastecer os cofres de corruptos. Isso tem que nos causar indignação. Isso não pode ser algo natural".

A Justiça também decretou a condução de 14 suspeitos para prestar esclerecimentos. Entre eles, o ex-ministro da Previdência no governo Dilma, Carlos Eduardo Gabas e também o jornalista Leonardo Attuch - ele teria recebido R$ 120 mil sem prestar nenhum tipo de serviço.

O juiz Paulo Bueno de Azevedo determinou as prisões para garantir a aplicação da lei, a ordem pública e também a instrução criminal, que significa evitar que os suspeitos prejuquem as investigações.

A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo disse que a prisão é ilegal. Que ele nunca foi ouvido no inquérito - mesmo tendo se colocado à disposição. E que a responsabilidade pelo acordo de cooperação técnica era da Secretaria de Recursos Humanos e não do então ministro.O PT afirmou que a operação de busca e apreensão na sede de São Paulo foi desnecessária. E uma nova tentativa de criminalizar o partido.

A Consist disse que vai continuar colaborando com a Justiça.

A equipe de reportagem não conseguiu contato com Valter Correia da Silva.O ex-ministro Carlos Gabas disse que vai prestar depoimento em data oportuna.O site Brasil 247 declarou que o jornalista Leonardo Attuch foi convidado a prestar depoimento e fará isso de forma voluntária e espontânea.

O advogado de João Vaccari Neto disse que as acusações são improcedentes.O Ministério do Planejamento declarou que abriu uma sindicância no ano passado para investigar as denúncias. E que poderá abrir processo administrativo se identificar servidores envolvidos em condutas ilícitas.A assessoria do advogado Guilherme Gonçalves negou o envolvimento dele em qualquer irregularidade. E disse que ele vai se apresentar à Polícia Federal assim que chegar ao Brasil

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