Publicado em 11/02/2021 às 15:13, Atualizado em 11/02/2021 às 19:31

“Tive um surto psicótico, não me lembro”

Acusada de bater cabeça de idosa no meio-fio até a morte alega surto; vítima e ré eram amigas.

Diário Digital,
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Foto:  Luciano Muta

Com diversas passagens pela polícia por furto, estelionato e falsidade ideológica, Pâmela Ortiz encara o Tribunal do Júri nesta quinta-feira (11) por um homicídio que chocou Campo Grande. Ela é acusada de matar Dirce Santoro Guimarães que, na época do crime, tinha 72 anos. A idosa foi morta após ter o rosto chocado contra o meio fio até ficar desfigurado. Pâmela alega que agiu em legitima defesa e não se lembra do assassinato porque segundo ela sofreu um surto psicótico naquela data, 19 de fevereiro de 2019. Ela foi presa seis dias depois.

Vítima e acusada eram amigas. Pâmela ganhou a confiança da idosa a quem chamava de "vovó" e prestava serviços com transporte levando Dirce Guimarães para os lugares onde precisava se deslocar. No entanto, a vítima teria descoberto que Pâmela estaria usando seu cartão de crédito e questionou. Foi assim que surgiu a desavença.

No julgamento que começou às 08 horas, a ré foi ouvida assim como duas testemunhas de acusação. Em seu depoimento Pâmela explicou que a idosa era sozinha, não tinha filhos e era viúva. Ela nega que cobrava para transportar a idosa nos lugares como médico ou mercado e que fazia com a intenção de ajudar. Durante todo o depoimento ela se manteve tranquila e com fala bem articulada.

" Conheci a Dirce em 2019 no posto de saúde quando estava acompanhado meu filho de 6 anos que é portador de deficiência. Ela estava sozinha e começamos a conversar. Resolvi oferecer uma corona e tínhamos uma amiga em comum. Logo em seguida Dirce pegou meu número e sempre me ligava até que um dia pediu para levar ela em uma loja para comprar um fogão. E compramos o fogão. Outro dia ela pediu pra comprar um ventilador eu a levei, sempre sem cobrar nada pelo fato dela viver apenas com um salário mínimo. Dias se passaram apresentei ela a minha mãe e minha vó e viramos todas amigas. Até que começaram a surgir compras no cartão dela", explicou.

Ainda em seu depoimento Pâmela disse que levou a vítima até o centro da cidade, na Rua 14 de julho, para verificar que compras tinham sido feitas. "Foi preciso trocar o cartão e nisso ele acabou sendo cadastrado no meu celular, mas eu nunca usei o cartão da Dirce sem permissão dela, no dia crime ela acabou me ofendendo e começamos a discutir. Nesse momento Dirce deu um tapa na minha cara fiquei nervosa fomos andar pelo região do Indubrasil para tentar se resolver, mas ela bateu novamente em minha cara. Parei o carro e Dirce saiu dizendo que ia embora a pé. Eu não quis deixar e acabei batendo a cabeça dela no meio fio. Daí não lembro mais nada. O psicóloga disse que sofri um surto psicótico", afirma a ré.

A defesa de Pâmela é realizada pelo defensor público, Rodrigo Stochiero. Ele explicou que a ré alega a situação de legítima defesa e os jurados têm que avaliar se há elementos ou não para concordar. " A defesa vai trabalhar com a redução de pena, pois entendemos que algumas qualificadoras estão sem provas. É é possível que amenizamos a pena de Pâmela", explica Stochiero.

Versão das testemunhas

A primeira testemunha a ser ouvida foi a empregada doméstica e amiga da vítima, Adriana Alves. Segundo ela, Pâmela se mostrava amiga, uma pessoa confiável. " Nunca ia imaginar tamanha crueldade. Eu era vizinha da Dirce há mais de 5 anos, ela não tinha filho era viúva então sempre que podia eu visitava ela. Quando fiquei sabendo da amizade de Pâmela e Dirce fiquei feliz, até por que ela precisava. Sempre que Dirce pegava uma carona com Pâmela ela pagava, nunca foi de graça como a suspeita alega, mas ela estava desconfiada pois começaram a surgir compras em nome da Dirce e o cartão dela tinha sumido. No dia do crime passei cedo na casa da minha amiga ela afirmou que estava esperando Pâmela para ir até o centro. E ela acabou não voltando só ficamos sabendo do crime quando procurando a delegacia para registrar o boletim e pegamos uma imagem das câmeras da vizinha onde mostra Pâmela saindo com Dirce às 9h da manhã", explicou Adriana.

O segundo a prestar depoimento foi Welligton Flores. Ele é agente de saúde da região onde Dirce morava e sempre visitava a idosa. "Conheci a Dirce em 2013. Além de cuidar da saúde dela viramos amigos. Uma vez ela comprou um celular pra mim eu paguei todas as parcelas. Ela estava feliz com a presença da Pâmela que ajudava bastante. Até que la me comunicou que estava desconfiada da amiga pois várias compras em seu cartão tinham sido registradas", afirmou.

Ainda em seu depoimento, Pâmela contou como tirou a vida de Dirce. Aos poucos ela acabou confirmando que bateu a cabeça da vítima. Assustada, arrastou o corpo até uma árvore e lá deixou. " É injusto alegar ocultação de cadáver eu deixei o corpo bem à mostra realmente para alguém encontrar. Após o crime fiquei sem reação e acabei me escondendo em um hotel", alegou.

Pâmela está sendo julgada pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver.