Publicado em 28/08/2017 às 09:00, Atualizado em 28/08/2017 às 13:05

Casal que planejou sequestro de amigo pretendia juntar dinheiro para viagem

Ação desastrosa, com clima de ficção, terminou com dois bandidos mortos

O Globo,
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Leanny era irmã de um dos mortos, e, Nilton, velho amigo da vítima de sequestro - Divulgação

Um sequestro com nuances de roteiro de filme policial terminou neste domingo com dois bandidos mortos e um casal de amigos da vítima preso, acusado de arquitetar o crime. Depois de anos sem contato, um empresário reviu em São Paulo o engenheiro Nilton Alves Moreira Júnior, um velho amigo do tempo de faculdade, que estava vivendo no Rio com a noiva, Leanny Taceane da Conceição Renores. No último sábado, o empresário veio ao Rio, a bordo de sua Land Rover, acompanhado do filho e da nora para jantar com Nilton e Leanny. O grupo seguiu, em dois carros, para um restaurante na Freguesia.

Quando deixavam o local, por voltar de 21h, todos foram rendidos por dois homens armados. Os criminosos abandonaram o carro de Nilton e Leanny próximo ao restaurante e levaram os cinco como reféns no Land Rover. Depois de rodarem por mais de uma hora, os sequestradores atravessaram a Linha Amarela e a Avenida Brasil, em direção ao Santo Cristo. Nesse momento, passaram a cobrar R$ 300 mil para liberar o grupo.

Quando chegaram à Rua Pedro Alves, próximo ao Morro do Pinto, eles se depararam com um carro do Batalhão de Choque. Os policiais resolveram abordar o veículo e foram recebidos a tiros pelos sequestradores. Os bandidos foram baleados, e as vítimas levadas para a 5ª DP (Centro). Na delegacia, os policiais começaram a suspeitar de que havia algo errado naquele suposto sequestro relâmpago.

— Primeiro, um dos policiais estranhou quando Leanny começou a chorar muito depois de saber da morte dos sequestradores. Ela justificou que chorava pela perda de uma vida humana. Mas pareceu muito estranha a reação dela. Depois, desconfiamos do fato de que nem Leanny nem Nilton conseguiam reconhecer por foto os sequestradores com quem ficaram tanto tempo. Todas as outras vítimas reconheceram os dois — explicou o delegado Marcelo Carregosa.

LIGAÇÕES CRUZADAS

Ainda segundo o delegado, o próprio empresário estranhou o fato de os sequestradores terem conseguido rapidamente tantas informações sobre ele próprio. Percebendo muitas contradições entre o que dizia o casal e as outras vítimas, os policiais resolveram fazer um levantamento nos celulares dos mortos e das vítimas. Foi quando a mãe de Leanny ligou para saber do filho.

— Fiquei com muita pena dela. Ela ficou sabendo que o filho morreu e, nervosa, perguntou por Leanny. Ou seja, ela estava perguntando pela vítima no telefone do sequestrador? Quando levantamos as identidades, os dois tinham o mesmo nome e filiação — explicou o delegado.

Ao descobrirem o envolvimento direto do amigo na trama do sequestro, a família do empresário ficou em choque. Leanny e Nilton queriam ir para o exterior e tentavam reunir dinheiro para a viagem.

— Nilton também era de São Paulo. Engenheiro de família de classe média alta, que acabou vindo para o Rio de Janeiro e perdendo contato com o amigo. Segundo o empresário, há algum tempo Nilton voltou a procurá-lo em São Paulo para reatar a amizade — afirmou Marcelo Carregosa.

O casal foi preso em flagrante por extorsão mediante sequestro e levado para o Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.

O empresário e a família voltaram para São Paulo.

— Eu fiquei mesmo com pena da mãe, que perdeu um filho e viu a filha ser presa acusada de um crime tão grave. Ela ficou arrasada. Dava para ver que era uma pessoa honesta e que ficou em choque com tudo o que aconteceu — concluiu o delegado.