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Snipers defendem precisão para salvar vidas: Acertar é única opção

Atiradores de elite do Brasil negam tensão em apertar o gatilho à distância.Filme Sniper Americano mostra dilema de militar que matou 150 em guerra

Atirador da PM-RJ, Busnello matou sequestrador com tiro na cabeça em 2009 (Foto: Arquivo pessoal) (Foto: )

Ninguém sabe onde ele está. Posicionado no topo de um prédio, em uma janela, em um vão, ele tenta passar imperceptível, ter a melhor visão da situação a longas distâncias e fazer o tiro certeiro e perfeito. É esse o trabalho do sniper, o franco-atirador.Para os atiradores de elite brasileiros ouvidos pelo G1, não há problema moral em apertar o gatilho a 50, 100 ou 500 metros para matar o alvo com um único disparo. Entendem que foram preparados para isso e que sua ação, quando necessária, é para salvar vidas.Nesta quinta (19), estreia nas telas do país o filme “Sniper Americano”, que conta a história de Chris Kyle, considerado o mais letal atirador de elite dos Estados Unidos, com mais de 150 mortes confirmadas em guerras.O filme relata momentos em que o militar sofria ao tomar a decisão de atirar em crianças e mulheres que atacavam soldados e situações em que também se cobrava quando não conseguia salvar a vida de um combatente. O filme quebrou recordes de bilheteria e gerou polêmica nos EUA.

“O filme tenta dar mais humanismo ao atirador, é mais hollywoodiano. Não há este dilema de atirar para matar, sou muito esclarecido quanto a isso. Alguém está praticando alguma coisa de mal contra quem você jurou defender e proteger e você tem que fazer seu trabalho”, afirma o tenente-coronel João Jacques Busnello, da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Foi ele quem, em 2009, deu o disparo certeiro na cabeça de um criminoso que mantinha uma mulher refém com uma granada na Tijuca, zona norte da cidade(veja vídeo ao lado). Após ter a autorização, o atirador esperou 20 minutos para fazer o disparo capaz de matar o criminoso sem acertar a refém.“Quando ele colou o pino na granada e a refém começou a vomitar, vi que era a hora. Eu estava 100% com certeza do tiro, só pensava em salvar a vítima”, diz. “Matar alguém, na minha visão, é salvar alguém”, afirma o coronel Busnello.“A sociedade pagou o seu treinamento. Manter um atirador custa caro. Ou você protege aquilo que se propôs ou então vai ficar entregando as ovelhas para os lobos”, filosofa o oficial de 44 anos.

Matar alguém, na minha visão, é salvar alguém

João Busnello,sniper que matou um sequestrador que portava uma granada no RJ em 2009

Atualmente, as polícias do Brasil usam o sniper em quatro situações: em ocorrências com reféns, em rebeliões em presídios, na proteção da tropa em avanços durante operações em favelas e na proteção de autoridades durante visitas oficiais ou grandes eventos, como a Copa do Mundo.

Apelidado de Assombroso, um sargento do Exército de 50 anos que prefere não ter o nome divulgado atuou por um ano como sniper na missão de paz da ONU no Haiti, participando de uma série de operações do Brasil para a conquista da área mais violenta do país caribenho. Ele relata ter disparado contra atiradores inimigos que tentavam matar soldados brasileiros.

Quando você dispara, sabe que alguém vai morrer dentro da sua luneta (o sniper mantém o foco no alvo até que ele tombe). Por isso, tem que ter maturidade. Às vezes, você fica muito tempo observando um homem armado e decide não eliminá-lo porque, logo atrás, há um barraco de madeira facilmente permeável por um tiro de fuzil, onde há a hipótese de haver inocentes que podem ser atingidos. É angustiante, porém, faz parte da vida do sniper. Por isso, o sniper é especial sobretudo dentro da cabeça, define Assombroso.

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