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Descaso com depressão materna custa mais de R$ 32 bi ao Reino Unido

No Brasil, 26% das mulheres desenvolvem algum tipo de problema psicológico até um ano após dar à luz.

(Foto: PA)

A sociedade britânica está pagando um preço alarmante por não lidar de maneira adequada com problemas psicológicos que afetam gestantes e mães de bebês de até um ano.

A análise é de um estudo feito pelo Centro de Saúde Mental da London School of Economics (LSE) que concluiu que, se contabilizados todos os nascimentos em um ano, há um custo a longo prazo de 8,1 bilhões de libras (o equivalente R$ 32,5 bilhões) proveniente de problemas psicológicos maternos, como a depressão pós-parto.

Uma em cada cinco mulheres britânicas desenvolve algum tipo de distúrbio psicológico durante a gravidez ou nos meses após o nascimento do filho, diz o estudo.

Depressão, ansiedade e problemas como esquizofrenia e bipolaridade são alguns dos riscos.

O estudo afirma que esses problemas são de importância vital por prejudicarem o bem-estar da mãe e causar danos na saúde emocional e no desenvolvimento cognitivo e até físico da criança.

Dos 8,1 bilhões de libras gastos em decorrência desses problemas, um quinto é relativo ao setor público, incluindo o NHS (serviço público de saúde, equivalente ao SUS brasileiro) e a serviços sociais.

Já o restante está relacionado a gastos mais amplos e indiretos, como a perda de emprego por conta da depressão materna.

InvestimentoO Ministério da Saúde britânico diz que vem investindo em treinamento de profissionais para lidar com problemas psicológicos maternos.

Os autores do estudo, no entanto, criticam o que chamam de serviços e tratamentos improvisados em todo o país, acrescentando que metade dos casos de depressão não foram nem ao menos detectados e que muitas mulheres não recebem tratamento adequado.

Problemas psicológicos entre gestantes e mães são comuns e custosos, disse Alain Gregoire, chefe do Maternal Mental Health Alliance, instituto corresponsável pelo estudo.

A boa notícia é que as mulheres podem se recuperar totalmente quando recebem o tratamento adequado. Por isso, é vital que todas as mulheres recebam a ajuda especializada que necessitam.

Impacto nas criançasA pesquisadora Annette Bauer, principal responsável pelo estudo, disse que as conclusões da pesquisa são vitais para a economia e para a sociedade como um todo. Especialmente por conta do potencial impacto negativo que esses problemas podem ter nas crianças.

Para proteger a saúde da família no longo prazo, a intervenção precisa começar antes de a criança nascer, ou logo em seguida. Isso porque os benefícios são muito altos e os custos podem ser compensados em um curto período de tempo.

O Ministério da Saúde britânico afirmou que no futuro todas as parteiras (que na Grã-Bretanha são responsáveis por partos de baixo risco e podem acompanhar as mães nos meses seguintes ao nascimento) terão treinamento para lidar com problemas psicológicos das mães.

Realidade brasileiraSegundo o estudo britânico, até 20% das mulheres desenvolvem algum tipo de problema psicológico durante a gravidez ou até um ano após dar à luz.

No Brasil, os números são semelhantes. Embora não haja uma pesquisa ampla e nacional sobre o tema, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que a depressão materna foi detectada em 26% das mães entre 6 e 18 meses após o parto, sendo mais frequente entre as mulheres de baixa condição social e econômica, nas pardas e indígenas, nas mulheres sem companheiro, que não desejavam a gravidez ou que já tinham três ou mais filhos.

A depressão materna é um evento pouco diagnosticado e muito menos tratado. Poucos países adotam estratégia de rastreio de depressão durante a gestação e após o parto e, mesmo assim, sem cobertura universal, mesmo no Reino Unido, disse Mariza Theme, pesquisadora da Fiocruz responsável pelos dados relativos à depressão materna no estudo Nascer no Brasil.

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