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Em 10 meses, Santa Casa da capital atendeu 2.402 moradores de Sidrolândia

80% dos pacientes, são encaminhados pelo Hospital Elmiria Silvério Barbosa de Sidrolândia. O transporte e custeado totalmente pela prefeitura

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Raul Alencar Araújo, 13 anos, o menino que mora na zona rural de Sidrolândia e fraturou o punho (Foto: Henrique Kawaminami)

Meio pública e meio privada, a Santa Casa de Campo Grande se equilibra entre números e vidas. No quesito estatística, vai de 15 mil atendimentos por mês à dívida de R$ 150 milhões. Nesta semana, ganhou o noticiário por ora cobrar e ora ser cobrada.

A Santa Casa apresenta fatura de R$ 24 milhões do poder público, ao mesmo tempo em que a dívida da conta de luz foi parar na Justiça: R$ 4,2 milhões. Desde sexta-feira (dia 25), não realiza cirurgias eletivas, aquela que não é urgente.

As cifras milionárias soam distante para a maior parcela dos sul-mato-grossenses, estado onde a média de rendimento mensal é de R$ 1.439, mas o hospital é o socorro quando vem a doença ou o acidente.

Neste ano, o número mostra que 2.402 moradores de Sidrolândia, buscaram atendimento na Santa Casa. Um deles é Raul Alencar Araújo, 13 anos, o menino que mora na zona rural de Sidrolândia e fraturou o punho ontem (dia 30).

A avó Maria Aparecida Alencar de Souza, 55 anos, conta que ela o neto vieram com a ambulância da prefeitura, o menino fez cirurgia para colocar pino e teve alta. “Achei que ia demorar muito tempo, mas já teve alta”. Os dois ainda permaneciam no hospital à espera do transporte para voltar para casa.

A convite da Santa Casa, a reportagem do Campo Grande News visitou a unidade hospitalar, administrada pela ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), mas com histórico de ter sofrido intervenção da prefeitura e da Justiça nos últimos 14 anos.

Ativada há um ano e dois meses, a Sala de Controle é o cérebro do maior hospital do Estado. Em oito telões, desfilam gráficos com a taxa de ocupação, tempo de espera do paciente, número de cirurgias, partos e óbitos. A informatização é o embrião para o uso da inteligência artificial, em que a máquina também orienta sobre o encaminhamento do paciente.

Com um clique, pontinhos espalhados pelo mapa do Brasil indicam de onde veio o paciente. Na região Norte, a marcação pisca sobre municípios como Manaus (Amazonas) e Serra do Navio (Amapá). A vinda de locais tão distantes é por conta de o paciente estar em trânsito, ou seja, veio a MS para passeio ou trabalho, e também a procura por atendimento especializado.

A Santa Casa é uma das cinco unidades de referência do SUS (Sistema Único de Saúde) para cirurgia pediátrica cardíaca congênita no Brasil. O hospital também é destino de quem está perto. Jaraguari, a 44 km, enviou 571 pacientes. Mais perto, a 25 km de Campo Grande, Terenos foi a origem de 1.575 pacientes.

Na manhã desta quinta-feira, telão na Sala de Controle mostrava 453 leitos do SUS, com taxa de ocupação de 79,25%. A explicação é de que o controle é feito por hora. Desta forma, o leito vazio pode estar passando por desinfecção ou aguardando paciente retornar do centro cirúrgico.

A visita prosseguiu pela Unidade do Trauma, o hospital foi inaugurado no fim do ano passado. A transição entre a Santa Casa e a nova unidade é feita por meio de corredor interno. Lá, estão 10 leitos de UTI (Unidade Terapia Intensiva). O espaço exige equipe 24 horas e médico especialista. A direção informa que cada leito da UTI custa R$ 1.925, mas o SUS paga R$ 815.

Ação na Justiça Federal de Campo Grande pede que a União faça repasse mensal de R$ 4,8 milhões ao Fundo Municipal de Saúde para custear novos serviços no Hospital do Trauma. O MPF (Ministério Público Federal) aponta subfinanciamento pelo governo federal.

A caminho do centro cirúrgico da Santa Casa, o trabalho não para em uma sala onde são reformadas peças de roupa usadas no hospital. Por dia, são lavados cinco mil quilos de roupas por dia. Na entrada da lavanderia, fotos não deixam esquecer o abandono que já foi o local.

Agora, as peças saem esterilizadas, embaladas e com controle do destino. Terceirizado, o serviço está a cargo da Grifort Gestão em Saúde. A higiene impacta no índice de infecção hospitalar, que já foi de 17% e agora, conforme a direção, não ultrapassa 5%. A meta é alcançar o hospital Albert Einstein, de São Paulo.

No Pronto-Socorro, a reportagem avista duas macas no corredor e é informada de que os pacientes ficarão ali por pouco tempo. O cenário é diverso do que por muitos anos foi lugar-comum: muita gente e pouco espaço.

Conforme o Protocolo de Manchester, os pacientes são classificados por cores. Vermelho é atendimento imediato; a cor laranja indica atendimento em até 10 minutos. A cor verde tem prazo de duas horas, mas o hospital adotou tempo limite de 40 minutos, por considerar a espera de 120 minutos desumana. Quando passa desse prazo, uma sirene pisca na tela da Sala de Controle, que entra em contato para agilizar o atendimento.

O setor mais agitado por onde a equipe de reportagem esteve é o ambulatório, onde são feitos atendimentos de consultas agendadas.

A busca por dinheiro – Diretor-presidente da ABCG, Esacheu Nascimento afirma que a cada R$ 100 gastos com paciente do SUS, o hospital recebe R$ 65. “O grande erro foi contratualizar com o Sistema Único de Saúde. É um hospital que não se paga”.

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