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Entrevista: o coração não gosta do frio, mas adora uma vacina

Brincadeiras à parte, o inverno é um período do ano que exige cuidados com a saúde cardiovascular (e um dos mais importantes é manter a vacinação em dia)

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Divulgação

O inverno não é só a estação dos infectologistas, que se preocupam com gripe, pneumonia e afins. Nem apenas dos dermatologistas, sempre de olho em como manter a pele hidratada nos dias mais secos. Essa estação também cobra atenção especial dos cardiologistas, os médicos que cuidam do nosso coração.

Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), Francisco Saraiva conversou com a SAÚDE sobre os desafios dos dias frios e secos para o bem-estar do peito. E reforçou a importância de a população com alguma pane cardíaca não deixar de se vacinar contra gripe e pneumonia. Confira a entrevista:

SAÚDE: O que o inverno tem a ver com a saúde do coração?

Francisco Saraiva: O próprio resfriamento da temperatura induz alterações no organismo que podem mexer com a saúde cardiovascular. Ele induz pequenos espasmos [uma contração involuntária] nas artérias, principalmente em artérias doentes. Esses espasmos, dependendo da situação, dificultam a chegada de sangue para o coração, o que causaria angina.

Além disso, a secura do ar gera uma menor dispersão de poluentes. E a poluição está associada a problemas cardíacos.

Agora, talvez o fator mais importante sejam as doenças infecciosas, que direta ou indiretamente prejudicam o coração, principalmente de alguém mais velho ou com alguma doença prévia. Essas infecções são mais comuns no inverno pela aglomeração de pessoas em espaços fechados, por exemplo. Para ter ideia, o cardiopata tem recomendação oficial para tomar as vacinas contra gripe e pneumonia. Ele faz parte dos grupos prioritários.

Como a gripe e a pneumonia prejudicam a saúde cardiovascular?

São vários os trabalhos que mostram, por exemplo, que pacientes cardíacos com pneumonia tem um maior risco de morte por problemas no coração. A verdade é que essas doenças sobrecarregam o organismo como um todo.

Essas infecções exigem uma mobilização das células de defesa, que depende da circulação sanguínea. E afetam a respiração, o que piora a chegada de oxigênio nos tecidos do corpo. É como se o coração tivesse que trabalhar em dobro para lidar com essas situações. E, se ele já está no limite, pode acabar não aguentando.

Como o vírus da gripe e as bactérias que comumente causam pneumonia estão à solta, é importante se proteger. E a vacinação é fundamental nesse sentido.

Os vírus e bactérias podem atacar diretamente o coração?

Podem. É a endocardite, uma infecção grave. Isso ocorre quando o agente infeccioso trafega pelo sangue e se aloja no coração. De novo, é uma situação mais comum em pacientes que já tem uma doença cardíaca. Até o citomegalovírus e o vírus da mononucleose [a doença do beijo] podem eventualmente atacar o coração, embora isso seja raro.

Mas a verdade é que isso não corresponde à maioria dos casos. Em geral, as doenças infecciosas são uma ameaça ao coração, porque sobrecarregam a respiração e o sistema imune. E, com isso, exigem demais do músculo cardíaco.

Viroses e resfriados também podem fazer mal para a saúde cardiovascular?

É pouquíssimo provável. Talvez a gente encontre na literatura científica alguma associação leve, mas o foco não deveria ser esse. O paciente com um problema cardíaco precisa se preocupar com a gripe e a pneumonia, principalmente com o avançar da idade. Ele deve tomar as vacinas.

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