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Matou mais de 40 milhões, HIV tem quase um século e nasceu em Kinshasa

O HIV já matou mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Cerca de 35 milhões vivem atualmente com o vírus.

É um dos mais recentes desenvolvimentos na investigação do vírus HIV, uma pandemia global que terá surgido pela primeira vez na África Subsariana e que se terá propagado fruto do crescimento urbano na República Democrática do Congo. São estas as principais conclusões de um estudo publicado esta sexta-feira pela revista Science, O início da disseminação e propação epidémica do HIV-1 em populações humanas.Nuno Faria, investigador da Universidade de Oxford, é o primeiro autor deste estudo inédito pelo cruzamento entre dados históricos e filogenéticos e refere, em declarações à agência Lusa, que se conseguiu comprovar que os vírus nas biopsias e amostras de sangue mais antigo foi registado na região de Kinshasa. No grupo de 14 investigadores que assina o artigo está também João Sousa, da Universidade Católica de Lovaina. 

“Uma tempestade perfeita”  O grupo de investigadores conclui nesta investigação que o HIV-I do grupo M, que deu origem à pandemia, surgiu numa interação entre seres humanos e chimpazés num episódio de caça. No site da Universidade de Oxford os cientistas explicam que das 13 interações entre os primatas e o Homem apenas uma originou a combinação. A disseminação deste mesmo vírus ficou a dever-se a uma conjuntura específica da região entre as décadas de 1920 e 1950: uma tempestade perfeita de factores, incluindo o crescimento urbano e o desenvolvimento ferroviário.Para além dos dados filogenéticos analisados, também os registos históricos e geográficos se revelaram determinantes no estudo. Depois do primeiro contacto com a doença através do grande símio dos Camarões no início do século XX, este primeiro doente, isolado até então, entrou em contato com outros seres humanos, que levaram o vírus até à cidade de Kinshasa, na atual República Democrática do Congo, em 1920.O vírus chega à cidade da África Subsariana numa altura de grande desenvolvimento económico, o crescimento demográfico exponencial, a forte indústria mineira que se começa a desenvolver, as linhas ferroviárias da região cada vez mais pujantes, bem como a presença crescente de doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente a sífilis, que ajudam na propagação do vírus pelas regiões urbanas de Brazzaville e Lubumbashi. Dados dos arquivos coloniais confirmam que no fim dos anos 40, mais de um milhão de pessoas passavam nas linhas ferroviárias de Kinshasa todos os anos, explica Nuno Faria à Science.As mudanças sociais com a independência do país em 1960 trouxeram a grande disseminação do vírus desde pequenos grupos de pessoas infetadas até à propagação por grupos populacionais maiores e eventualmente para o resto do mundo, explica o investigador português. Com a declaração da independência, o país passa por grandes dificuldades económicas e, numa tentativa de impulsionar o crescimento da então República Democrática do Congo, as Nações Unidas destacam professores do Haiti para ajudar no desenvolvimento da nova nação. Os investigadores relacionam ainda a propagação do vírus com o uso de material médico contaminado em campanhas de saúde pública no país. Quando regressam às origens, em 1964, os imigrantes haitianos levam consigo o vírus. Nas décadas de 1960 e 1970 o vírus dissemina-se no arquipélago, como comprova o material genético analisado pela investigação. A indústria do turismo sexual no país, muito procurada naquela época pela comunidade homossexual norte-americana, conduz a doença para os Estados Unidos e daí para o resto do mundo. O HIV já matou mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Cerca de 35 milhões vivem atualmente com o vírus.

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