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Mortes de bebês por sífilis triplicam em dez anos

O aumento no número dos casos está ligado também à falta de assistência a gestantes

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Foto: Flickr/Edgenome Claria

As mortes e abortos de bebês em decorrência da sífilis triplicaram no Brasil nos últimos dez anos, passando de 477 mortes, em 2006, para 1.499, em 2016, segundo dados do Ministério da Saúde. O número só não foi maior que o registrado no ano de 2015, quando 1.620 bebês morreram em decorrência da doença ainda no útero da mãe, nasceram mortos ou morreram até um ano após o parto.

O aborto espontâneo devido à sífilis congênita causou 692 mortes em 2016, enquanto 622 bebês nasceram sem vida. Por fim, 185 crianças morreram até um ano após o nascimento por causa da doença. Em 2016, o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu que o país vivia uma epidemia de sífilis também devido à falta de penicilina benzatina. Porém, neste ano, o abastecimento do medicamento foi normalizado, de acordo com o Ministério da Saúde.

“Tivemos um período de desabastecimento de penicilina, desde o fim de 2014. As empresas não queriam vender o medicamento porque o valor estava muito baixo. Isso não foi um problema exclusivo do Brasil. Mais de 30 países tiveram essa dificuldade”, explicou Adele Benzaken, diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

O aumento no número de mortes entre fetos, bebês e recém-nascidos está aliado a quatro pontos, de acordo com especialistas: falta de penicilina; falhas na assistência médica a gestantes; diminuição no uso de preservativos; e a resistência de profissionais da saúde em usar medicamentos para tratar a doença por medo de reação anafilática.

Em relação à resistência dos profissionais da saúde, um parecer do Conselho Federal de Enfermagem indicou que os enfermeiros só deveriam aplicar o medicamento em locais com estrutura de primeiros socorros, para prevenir em casos de reação anafilática. Porém, esse documento foi revogado em 2015.

Infectologista do núcleo de patologias infecciosas da gestação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Jorge Senise, destacou também a falta de assistência a gestantes, o que poderia contribuir para a diminuição do problema. “Muitas vezes a grávida chega já tardiamente ao centro de saúde ou há demora para a realização do teste”, apontou Senise.

A estudante Sinara Ferreira, de 21 anos, passou exatamente por esse problema. Tendo descoberto a doença tarde demais durante a gravidez, ela viu seu bebê morrer cinco dias após o nascimento prematuro de oito meses. “Não sabia que estava doente nem o que era essa doença. O médico passou uns remédios, mas só consegui no posto quase dois meses depois”, afirmou a estudante.

Já Núbia Ferreira, de 32 anos, descobriu a doença dois dias antes da morte intrauterina de seu bebê, com seis meses de gravidez. “Eu havia feito alguns exames de sangue e quando entreguei ao médico ele falou que eu estava com sífilis. Fiquei muito assustada. Comecei o tratamento imediatamente, mas, para meu desespero, meu bebê morreu dois dias depois”, disse Ferreira.

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria treponema pallidum. Ela pode ser transmitida por relação sexual sem preservativo com uma pessoa infectada, pela mãe infectada para a criança durante a gestação ou no parto.

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