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Mosquitos ‘do bem’, contra a dengue, à solta no Rio de Janeiro

radora da comunidade de Tubiacanga (bairro na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro) há 30 anos, a artesã Patrícia Figueiredo esperava há meses o grande momento: a soltura de milhares de mosquitos da espécie Aedes aegypti.

Mas estes não estavam infectados pelo vírus da dengue, e sim por uma bactéria chamada Wolbachia – que impede o vírus de se desenvolver e assim evita a sua transmissão.

A filha de Patrícia teve dengue três vezes nos últimos três anos – para ela, os mosquitos “do bem” trazidos pela Fiocruz são uma esperança para que o alto número de contágios na comunidade possa diminuir já a partir do ano que vem.

O bairro de Tubiacanga é o primeiro lugar do lado de cá do Atlântico a receber o projeto Eliminar a Dengue: Nosso Desafio, que busca reduzir a transmissão da dengue usando a Wolbachia. O sistema começou a ser testado na Austrália em 2011 e já chegou ao Vietnã e à Indonésia.

Método natural

A equipe da Fiocruz chegou à comunidade na quarta-feira com potinhos de plástico tapados por um véu, repletos de mosquitos.

Um a um eles foram abertos em diferentes partes do bairro, liberando os mosquitos para fazerem seu trabalho: crescer e multiplicar-se.

A meta é que os espécimes se adaptem e se reproduzam até que a maioria da população de mosquitos no local tenha a bactéria.

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Ao longo dos próximos meses, 10 mil mosquitos serão liberados no bairro por semana.

Segundo o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil, a vantagem do método é usar uma bactéria comum, que está presente na natureza e não pode ser transmitida para humanos.

“O método é natural, seguro e autossustentável, porque a bactéria se estabelece e fica no local. E não tem fins lucrativos, então no futuro não haverá cobrança para levar mosquitos para outras localidades”, ressalta.

Além de Tubiacanga, a estratégia vai começar a ser testada na Urca, na Vila Valqueire e em Jurujuba, em Niterói. Os testes serão monitorados ao longo dos próximos dois anos. Se forem bem sucedidos, adotados em outras áreas.

Baixo custo

Diretor de Ciência e Tecnologia no Ministério da Saúde, Antonio Carlos Campos de Carvalho ressaltou a importância de se investir em pesquisa para resolver problemas de saúde pública.

“O custo é ínfimo em relação ao que se gasta para tratar doentes”, comparou.

De acordo com Carvalho, só neste ano o Ministério da Saúde já repassou R$ 300 milhões a estados e municípios para combater a dengue, enquanto o custo total do projeto nos últimos quatro anos foi de menos de R$ 3 milhões.

“Com o equivalente a 1% do investimento, podemos ter uma solução duradoura e ecologicamente correta para um problema de saúde pública”, considera.

No ano passado, o Brasil teve 1,5 milhão de casos de dengue, que causaram a morte de mais de 600 pessoas.

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