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Refrigerante afetaria a fertilidade

Estudo indica que tomar essa bebida todo dia traz dificuldades extras para um casal que deseja engravidar

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Foto: Dercílio/SAÚDE é Vital

Não é de hoje que a ciência insinua um elo entre ingestão frequente de refrigerantes e problemas de fertilidade. E tem evidência nova na área. A professora de epidemiologia Elizabeth Hatch, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, avaliou hábitos de 3 828 mulheres de 21 a 45 anos e 1 045 homens e concluiu: tomar uma lata todo dia reduziu, em média, 20% a chance de gravidez.

“Uma das principais teorias é que a bebida contribui para a resistência à insulina, o que aumenta a inflamação no corpo”, esclarece. “E isso tem impacto negativo na fertilidade.” O médico Maurício Chehin, da Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo, nota que o enrosco parece estar no açúcar mesmo, já que o refri diet não foi ligado a obstáculos.

Em sua defesa, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir) diz que a pesquisa é baseada em questionário alimentar – portanto, não mostra relação de causa e efeito. Segundo Elizabeth, porém, esse tipo de investigação é a que, dentro do possível, melhor fornece evidências sobre a ligação de um comportamento alimentar com o risco de um problema.

Bate-papo com a autora

Confira abaixo, a entrevista com a pesquisadora Elizabeth Hatch, líder da investigação. Ela conversou com a gente por e-mail.

SAÚDE: Por que você decidiu investigar a associação entre o consumo de refrigerantes e a fertilidade?

Elizabeth: Como é possível ver na introdução de nosso artigo, há diversos estudos que sugerem essa relação. Por exemplo: três pesquisas encontraram baixa qualidade do sêmen entre homens que tomavam mais refrigerantes.

SAÚDE: Com base em seu estudo, acha que pessoas que querem engravidar deveriam pensar duas vezes antes de abusar dos refrigerantes?

Elizabeth: Tomar muito refrigerante traz efeitos deletérios em diversos aspectos da saúde. Logo, seria prudente não exagerar em nenhuma fase da vida.

SAÚDE: Você já tem hipóteses para explicar por que a bebida prejudicaria a fertilidade?

Elizabeth: Há vários mecanismos biológicos discutidos em nosso artigo. Uma possibilidade é que a ingestão de refrigerante leva à resistência insulínica, o que aumenta a inflamação no organismo. E isso traz impactos negativos na fertilidade.

SAÚDE: É verdade que o refrigerante diet e o suco de frutas não afetaram as chances de ter filhos?

Elizabeth: Sim. Se o conteúdo de açúcar (ou xarope de milho com alto teor de frutose) tem a ver com a situação, isso explicaria por que não achamos o mesmo dado sobre os refrigerantes diets. E os sucos de frutas apresentam, além do açúcar, diversos outros micronutrientes saudáveis. Esse pode ser o motivo de também não termos identificado nenhum problema em relação a eles.

SAÚDE: A Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) diz que “não há nenhuma evidência científica séria e válida que relacione o consumo de refrigerantes com menores chances de gravidez”. Você acha que o fato de seu trabalho ser baseado em questionário de frequência alimentar diminui a força dos resultados?

Elizabeth: Não, de forma alguma. Obviamente a entidade não gosta desses dados e vai lutar contra qualquer evidência que diga que os refrigerantes são prejudiciais ou associados a alguma doença – esses produtos são relacionados a diabetes, obesidade e provavelmente problemas cardíacos.

Fizemos um grande estudo de coorte prospectivo, ou seja, a exposição ao refrigerante foi medida antes do resultado aparecer, o que reduz o risco de viés. Além disso, seria extremamente difícil realizar um estudo randomizado*. Então, os trabalhos observacionais, como o nosso, fornecem as melhores evidências que temos.

*Nota da reportagem: em um estudo randomizado, um grupo de voluntários seria escolhido aleatoriamente e então passaria a tomar refrigerante sempre, enquanto outra turma selecionada ao acaso não o beberia. Depois de determinado tempo, a taxa de fertilidade de todos as pessoas seria medida e comparada. Mas, por questões éticas, é complexo obrigar voluntários a consumir com frequência um produto qualquer para verificar supostos danos que ele comete à saúde.  

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