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Renata Fan, a bela da bola primeira mulher à frente de uma mesa redonda

Primeira mulher à frente de uma mesa redonda, Renata Fan sabe que é linda, mas o que lhe interessa mesmo é credibilidade

No instante em que Renata Fan chega a algum lugar, percebe-se um silêncio obsequioso ao redor. Todo mundo olha estupefato e não fala nada. Com 1,79 m de altura (consideravelmente ampliados pelo salto alto), olhos verdes e um sorriso franco, ela ilumina os ambientes que ocupa. 

Seus tempos de miss, quando ganhou o concurso no Brasil e foi 12ª no mundo, na competição de 1999, em Trinidad Tobago, ainda transparecem nos seus movimentos e gestos suaves. Ao entrar no saguão do hotel onde faria o ensaio de ALFA, sua estreia em uma revista masculina, imediatamente vários homens ficaram paralisados e boquiabertos. 

E depois de alguns instantes de admiração, um deles chegou perto e pediu para tirar uma foto. Simpática, Renata topou. E depois ainda fez mais duas fotos com outros fãs. Apesar da impressão inicial de deusa inalcançável, ela se revela acessível e cordial com seus súditos. “Não sou uma celebridade. Vou ao supermercado, à farmácia, caminho perto do meu prédio e como hambúrguer no McDonalds”, diz. “Minha vida é idêntica ao que sempre foi.”

Primeira mulher a comandar uma mesa redonda de futebol, o programa Jogo Aberto, no ar desde 2007 na rede Bandeirantes, ela sente que quebrou uma barreira profissional importante, driblou o machismo do meio esportivo com habilidade e adquiriu respeito jornalístico. Definitivamente, Renata é uma profissional séria. Pensa em tudo que fala e mede cada palavra que diz. Suas ideias sobre seu ofício são claras e sua disposição para o trabalho, permanente. “Tenho uma relação com o futebol que não se desgastou, pelo contrário, melhorou ao longo do tempo”, afirma. “Enfrento uma rotina intensa, mas estou feliz e satisfeita com isso”. Para chegar lá e superar seu desafio diário, que tem início às 11h15, leva uma vida espartana. Não bebe álcool há muitos anos, não fuma e nem tem vida noturna. Só é vista na noite por obrigação profissional, quando tem de apresentar algum evento como mestre de cerimônias. Acorda às cinco da manhã, toma café e lê todos os cadernos de esporte dos jornais para chegar à redação informada. “Mulher tem de acordar mais cedo, tem a coisa da pele, de não parecer inchada quando sai da cama e eu tento cuidar bem dessa parte. Preciso acordar cedo e abrir mão de uma série de coisas”, diz.

Renata começou na imprensa esportiva no programa Terceiro Tempo, como assistente de Milton Neves, na TV Record. Foi há exatos dez anos, quando ainda fazia faculdade de jornalismo. Ao convidá-la, Neves, por quem ela declara admiração irrestrita, queria uma mulher com curvas, que seguisse o padrão de todas que tinham trabalhado com ele antes. Mas descobriu logo que Renata era bem mais do que isso. “Ele olhava para mim e dizia: Gaúcha, você não é só bonita. Apesar de que eu acho você só bonitinha”, afirma Renata. “Você tem algo mais, é interessada, articulada, se expressa bem e tem confiança naquilo que faz”. As palavras serviram como estímulo. Aos poucos, passou a substituir o apresentador nas suas ausências. Lembra que a exigência e a disciplina de Neves serviram de exemplo para seu desenvolvimento profissional e diz que é viciada em ver jogos de futebol, desde o campeonato europeu até a segunda divisão do brasileiro. Vê várias partidas simultaneamente. Também gosta de gravar aquelas que não consegue assistir e tem a mania de tuitar enquanto está diante da TV. “Isso para mim é uma terapia. Faço uma coisa que me dá prazer e que me deixa extremamente satisfeita. Na hora que não tenho nada para fazer, vou ver um jogo de futebol”, conta.

Um das precauções profissionais de Renata é não se envolver com gente do futebol – atualmente namora o piloto de stock car Átila Abreu. Diz que não convive fora do ambiente de trabalho com pessoas do meio. Prefere se preservar. Tampouco tem fontes entre jogadores e dirigentes. “Sempre tive uma filosofia de não me envolver com os jogadores afetivamente. Tenho pouquíssimos relacionamentos do futebol”, explica. “Recebo as pessoas no meu programa com cordialidade, mas não tenho amizade. Separo bem o trabalho da vida privada.” Renata não se considera uma repórter, mas uma apresentadora, e prefere perder um furo jornalístico a se arriscar a dar uma informação errada. No terreno pantanoso do futebol, onde boatos e notícias mal apuradas são convertidos em verdade de uma hora para outra, ela se orgulha de nunca ter sido desmentida ou processada. E acha que um dos grandes momentos do Jogo Aberto foi a notícia exclusiva de que Ronaldo Fenômeno viria jogar no Corinthians, passada por telefone pelo ex-jogador Neto. “Não sou uma pessoa irresponsável que entra no ar e fala o que quer”, diz.

Gaúcha de Santo Ângelo, na região das Missões, Renata não esconde de ninguém que é torcedora fanática do Internacional de Porto Alegre. Em prol da objetividade e da verdade, sua opinião é que jornalista esportivo tem de jogar aberto, tornar público seu time de coração e perseguir a imparcialidade. É colorado desde pequena e cresceu ouvindo jogos do time na rádio Guaíba e na Gaúcha. Nunca foi boa de bola, mas na infância arrumava sempre uma vaga de juíza nas partidas disputadas pelo irmão mais novo, Rafael, hoje seu empresário, melhor amigo e principal interlocutor nas conversas sobre futebol. “Tenho uma base familiar incrível e não gostaria nunca de decepcionar meus pais, que sempre me incentivam a ser uma pessoa melhor”, declara. “Jamais conseguiria, por exemplo, posar nua ou banalizar meus assuntos particulares.” Neste ensaio, ALFA conseguiu baixar só um pouco as suas barreiras morais. Quando questionada sobre o futuro, Renata é direta. Não pensa muito a respeito e diz que não costuma olhar nem para trás, nem para frente. “Não fico pensando em novos projetos e prefiro trabalhar com os pés na realidade”, diz. E sua realidade é o programa que comanda atualmente, com uma equipe formada por ela e com quem se sente totalmente entrosada. “Estou convencida de que quem faz muita coisa não faz nada bem feito. E que mais difícil do que ocupar um espaço na televisão é mantê-lo”, afirma.

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