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Carros importados, viagens e propina de até R$ 100 mil mensais eram as rotinas dos 20 PM's presos

Petição que preencheu ao menos 200 páginas que narraram a participação de 20 policiais militares de Mato Grosso do Sul

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Divulgação

“...[policiais militares] recebiam entre R$ 50 mil a R$ 100 mil por mês para dar proteção ao esquema de contrabando de cigarros, permitindo que os caminhões com cigarro ilegal, provenientes do Paraguai, transitassem pelos municípios de Bela Vista, Carocol, Jardim, Guia Lopes da Laguna, e Bonito sem qualquer fiscalização”.

Linhas acima fundamentaram a petição que preencheu ao menos 200 páginas que narraram a participação de 20 policiais militares de Mato Grosso do Sul com organizações criminosas associadas ao contrabando de cigarros.

As ações do bando ruíram com a Oiketicus, operação conduzida pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público Estadual. Além de prender 20 PMs, tenentes-coronéis, major, sargentos e soldados raso, os investigadores cumpriram 40 mandados de busca e apreensão na investida deflagrada dia 16 deste mês.

“Importante destacar que o tenente-coronel Admilson Cristaldo Barbosa goza de um padrão de vida incompatível com seus rendimentos como policial militar, a exemplo de aquisição de motos de luxo, carros importados, roupas de grife, viagens internacionais etc, proporcionadas por recebimento de quantias ilegais (corrupção sistemática)”, diz trecho da apelação do Gaeco.

O oficial em questão comandava o 11º Batalhão da PM, em Jardim, e tinha sido contemplado sem setembro do ano passado com a Medalha de Mérito da corporação. Seu salário gira em torno de R$ 20 mil a R$ 23 mil mensais.

De acordo com o Gaeco, “o mesmo ocorre com o tenente-coronel Luciano Espíndola da Silva, que faz questão de ostentar bens de luxo, a exemplo de carros e motos adquiridos com o dinheiro da corrupção”. Silva e Barbosa estão no xilindró há uma semana.

Em junho de 2015, Luciano Espíndola, foi homenageado pela Secretaria Nacional Antidrogas, com o Diploma de Honra ao Mérito pela Valorização da Vida. À época, o oficial ainda era major e, logo se tornou tenente-coronel.

Para os investigadores da Oiketicus (inseto também conhecido como bicho cigarreiro), “os policiais militares citados, davam suporte à atividade ilegal de contrabando, tudo mediante o pagamento da propina , já indicada, interferindo em fiscalizações de caminhões de cigarro, seja pessoalmente, seja por interpostas pessoas, para que não ocorressem de cargas e veículos”.

Também conforme o Gaeco, “os responsáveis por coordenar todas as atividades criminosas são os seguintes oficiais: TC Admilson Cristaldo Barbosa, então comandante 11º BPM de Jardim, TC Luciano Espíndola da Silva comandante da 1ª CIPM de Bonito, Major Oscar Leite Ribeiro, comandante da PM em Bela Vista até primeiro de março”. O major tinha sido transferido para 4º batalhão da PM de Ponta Porã. Depois de presos, eles foram afastados dos cargos.

O tenente-coronel Admilson, além de chefiar batalhão, tinha como fiel aliado um sargento da PM que também comandava quartel no interior do Estado.

“E é justamente por já participar do esquema delituoso há mais tempo e por gozar de prestígio junto aos contrabandistas que o primeiro sargento Angelucio Recalde Paniagua ostenta posição de destaque no grupo criminoso, inclusive é a pessoa de confiança do tc Admilson Cristaldo Barbosa, de quem goza de livre trânsito e para quem realiza as mais diversas atividades, até mesmo de cunho pessoal”, pagamento de piscineiro, conta de luz, por exemplo.

Note que o companheiro do tenente-coronel tinha força na organização criminosa:

“Primeiro sargento Angelúcio era o comandante do destacamento de Alto Caracol (distrito da cidade de Caracol, perto da fronteira com o Paraguai), onde participava ativamente do esquema de cigarro, dando passagem livre aos contrabandistas, mediante pagamento mensal de propina, que era distribuída aos demais do grupo".

PRESSÃO

Integrantes da quadrilha que amparava as ações dos cigarreiros afrontavam policiais que ousassem a contrariá-los: “mesmo depois de sua saída (do quartel), ocorrida em 20 de maio de 2016, o primeiro sargento Angelúcio Recalde Paniagua continuou a agir na região do Alto Caracol, especialmente para interferir nas apreensões realizadas por policiais militares honestos, sem participação no esquema, que acabavam por sucumbir às pressões, mormente em razão de sua patente mais graduada, já que a maioria da tropa naquele local é formada por soldados e cabos”.

Os dois tenentes-coronéis, sustentam o Gaeco, chefiavam o chamado Núcleo 2 da quadrilha de PMs envolvidos com a máfia do cigarro. Eles comandavam o trânsito de cargas ilegais aos arredores das cidades de Maracaju, Dourados, Naviraí, Mundo Novo, Iguatemi, Japorã e Eldorado.

Eram parceiros dos oficiais, segundo o Gaeco, Angelúcio Gonçalves de Souza, 47 (sargento, comandante de grupamento da PM em Guia Lopes da Laguna), Élvio Barbosa Romeiro, 39 (sargento), Ivan Edemilson Cabane, 40 (soldado), Jhondei Aguilera, 42 (sargento, comandante de grupamento da PM de Boqueirão, distrito de Jardim), Elisberto Sebastião de Lima, 40 (soldado), Nazário da Silva, 51 (sargento), Nestor Bogado Filho, 36 (soldado), Oscar Leite Ribeiro, 48 (major, comandante de companhia militar de Bela Vista), Valdson Gomes de Pinho, 41 (cabo).

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